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Especial 2021
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Saúde

Doenças que podem levar a malformação do feto

  • O grande vilão do momento para as gestantes é o Zika vírus, responsável pela microcefalia, mas outras doenças infecciosas também podem afetar as mulheres grávidas e serem transmitidas para o feto.

    Dr. Eugênio Antonio de Melo:
    Dr. Eugênio Antonio de Melo: "A ocorrência de microcefalia, por si só, não significa que ocorram alterações motoras ou mentais."

    A relação do Zika vírus com os mais de três mil casos de microcefalia registrados até agora no Brasil vem assombrando os epidemiologistas e mobilizando cientistas de institutos de pesquisa na busca de soluções. Enquanto o país vive num estado de alerta contra o Zika vírus – transmitido pelo mesmo mosquito responsável pela dengue, o Aedes aegypti –, as mulheres grávidas se preocupam também com outras doenças infecciosas, como a rubéola e a varicela, que igualmente podem causar sequelas no feto.

    Médico do Corpo Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Passos, o pediatra Eugênio Antonio de Melo, relaciona as doenças mais comuns do período gestacional que podem ser transmitidas ao feto pela mãe contaminada. Como o Zika vírus, causador da febre Zika, essas doenças também podem levar a malformações do bebê. São elas: toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus, herpes simples, rubéola e varicela ou catapora.
     
    “A principal via de transmissão mãe-feto é a transmissão vertical transplacentária, que consiste na transmissão durante o período gestacional, por via placentária, entre mãe e feto. Também pode ocorrer a transmissão por contato direto com lesões, no caso do herpes simples genital, sendo que nesse caso não há malformações fetais, mas infecção primária”, explica Dr. Eugênio.
     
    A seguir, o pediatra explica como ocorrem essas infecções: “A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii e pode ser adquirida pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados pelo protozoário presente nas fezes de gatos e outros felídeos. A rubéola é uma doença viral causada pelo Togavirus; sua transmissão se dá por aerossol, ou seja, pelo ar, através de espirro ou tosse de pessoas contaminadas. 
     
    SEQUELAS DAS DOENÇAS CONTAGIOSAS PARA O FETO

     

     
     
    A varicela, conhecida também por catapora, é uma doença viral causada pelo vírus Varicela-zoster. Sua transmissão se dá por aerossol ou pelo contato direto com o exantema (lesões avermelhadas). A citomegalovirose é uma doença viral causada pelo Citomegalovirus; sua transmissão ocorre através de contato com fluidos corporais, tais como saliva, urina e outros. O herpes genital é uma doença viral causada pelo vírus Herpes simples. Sua transmissão se dá por relação sexual desprotegida. A sífilis é uma doença causada pela bactéria Treponema pallidum. Sua transmissão se dá por relação sexual desprotegida.” (Veja as possíveis sequelas no quadro acima)
     
    Contra a rubéola e a varicela, as gestantes podem se proteger com vacinas. Para as demais doenças, existe apenas tratamento. O Zika vírus também ainda não pode ser prevenido com vacinação. A única forma de se proteger é evitar a picada do mosquito da dengue. 
     
    Segundo o Ministério da Saúde, a febre Zika é considerada uma doença benigna, com duração de três a sete dias. Em mais de 80% das pessoas contaminadas, a infecção não apresenta sintomas. Nos menos de 20% restantes, as manifestações clínicas são na forma de erupções acompanhadas de coceira, febre intermitente, alergia nos olhos, dores pelo corpo, cabeça e garganta, tosse, vômitos e hematospermia (sangue no sêmen).  
     
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    “Dentre as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, apenas o Zika vírus, conhecidamente, pode causar sequelas ao feto, visto que, até o presente momento, é a única doença transmitida pelo mosquito que pode atravessar a placenta, sendo transmitido ao feto”, disse o médico. 
     
    A microcefalia é uma malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. É caracterizada por um perímetro cefálico inferior ao esperado para idade e sexo do feto e, dependendo de sua etiologia, pode ser associada a malformações estruturais do cérebro ou ser secundária a causas diversas, segundo explica o pediatra.
     
    Ainda de acordo com o Dr. Eugênio, “a ocorrência de microcefalia, por si só, não significa que ocorram alterações motoras ou mentais. Crianças com perímetro cefálico abaixo da média podem ser cognitivamente normais, sobretudo se a microcefalia for de origem familiar. Contudo, a maioria dos casos de microcefalia é acompanhada de alterações motoras e cognitivas que variam de acordo com o grau de acometimento cerebral. Em geral, as crianças apresentam atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com acometimento motor e cognitivo relevante e, em alguns casos, as funções sensitivas (audição e visão) também são comprometidas. O comprometimento cognitivo ocorre em cerca de 90% dos casos”.
     
    Como ainda não existe vacina contra o Zika vírus, as mulheres grávidas devem redobrar as precauções contra o mosquito da dengue, que transmite também o vírus da febre chikungunya, além do Zika. “A principal forma de proteção das gestantes à contaminação pelo Zika vírus permanece sendo a prevenção do contato com o vírus, portanto, evitando ser picada”, alerta o médico (veja as orientações no quadro a seguir).
     
    Fonte: Adaptado de dpd.cdc.gov
    Fonte: Adaptado de dpd.cdc.gov

     

     
     
    A orientação é a principal forma dos médicos ajudarem as mães a não adquirirem essas doenças que podem afetar os bebês. A toxoplasmose e a sífilis, no entanto, são curáveis e com o tratamento adequado da mãe não contaminam o feto. Já as demais doenças virais, como a febre Zika, a varicela, rubéola, citomegalovírus e Herpes simples, devem ser evitadas principalmente no período da gravidez, para não passarem para o feto e deixar sequelas. “É imprescindível que sejam tomadas medidas preventivas por todas as gestantes e acompanhantes, e um acompanhamento adequado com o obstetra desde a descoberta da gestação”, frisa o pediatra.
     
    Como profissional especializado, o Dr. Eugênio Antonio de Melo analisa a alta incidência do Aedes aegypti no Brasil como um problema de conscientização da população quanto às medidas preventivas ao mosquito, que encontra no país as condições ideais para procriar. “Medidas básicas e simples para controle do vetor são muitas vezes negligenciadas pela população. É uma batalha difícil a que temos pela frente, mas, se conseguirmos com que cada pessoa faça sua parte, teremos um grande avanço no controle do mosquito e das doenças transmitidas por ele”, observa o médico. 
     
    PARA NÃO SEREM PICADAS, AS MULHERES GRÁVIDAS DEVEM:
     
    • Evitar horários e lugares com presença de mosquito: as primeiras horas da manhã e as últimas da tarde; em outros horários, o mosquito ataca às sombras.
     
    • Utilizar, continuamente, roupas que protejam partes expostas do corpo, como braços e pernas.
     
    • Eliminar em casa possíveis criadouros: limpeza de terrenos, descarte apropriado de lixo e materiais e aproveitamento adequado da água.
     
    • Consultar o médico de confiança sobre o uso de repelentes e verificar atentamente, no rótulo, a concentração do repelente e definição da frequência de uso para gestantes. Recomenda-se utilizar somente produtos que são devidamente regularizados pela ANVISA (repelentes naturais à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre outros, não possuem comprovação de eficácia nem aprovação pela ANVISA, até o momento).
     
    • Permanecer em locais com barreira para entrada de insetos, preferencialmente locais com telas de proteção, mosquiteiros ou outras barreiras disponíveis. 
     
    Enio Modesto

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