Grupo "Mamães 2016". Foto: Amorá Fotografia
Desde que a febre pelo vírus Zika foi confirmada no Brasil em abril de 2015, com quase 11 mil casos associados a gestantes, as mulheres grávidas ou que desejam engravidar não têm mais sossego. O receio delas é com a possível transmissão do vírus para o feto e os danos que chegam a ser fatais. As principais decorrências são o aborto, algumas doenças neurológicas e a microcefalia, quando o crânio e o cérebro do bebê são muito menores que os das outras crianças da mesma idade.
Em Passos, um grupo de gestantes que se comunicam pelo WhatsApp teve o vírus Zika como o principal assunto até que ganhassem seus bebês. “Não foi nada fácil passar o melhor momento da sua vida (gestação) tendo medo a todo momento de ser picada por um pernilongo. A única coisa que escutávamos quando contava a boa nova (‘estou grávida’) era ‘nossa, você tá usando repelente?’ ‘Nossa, você viu hoje na TV mais tantos casos de microcefalia?’”, conta a dentista Fernanda Gonçalves Barbosa, mãe de Lorena e criadora do grupo Mamães 2016.
Também membro do grupo e então grávida, a assistente social Thaís Cristina Mattar Rezende Fernandes recorda a dificuldade emocional por que passou durante a gestação de Miguel. “Foi desesperador! Depois da zika, a gravidez, em vez de ser uma alegria, virou uma preocupação. Mas, com a ajuda de todas, fomos vencendo nossos medos à medida que passavam as semanas de gestação”, disse.
A situação alarmante foi provocada não somente pelos riscos de complicações da zika como, também, pelos números da doença no país, que registrava mais de 200 mil casos em 2016. Destes, cerca de 15 mil estavam em Minas Gerais. Em Passos, no início daquele ano, havia 85 casos suspeitos de zika, com pelo menos três gestantes.
A preocupação das mulheres grávidas ou que planejam engravidar é motivada e justificada pelos estudos científicos que confirmam as sequelas da infecção nos fetos. O aborto e a microcefalia são algumas das decorrências da doença, que pode causar também manifestações neurológicas, como encefalites (inchaço e inflamação do cérebro), meningoencefalite (inflamação do cérebro e meninges), mielite (inflamação da medula espinhal).
Alexandra Grávida de Benício.
Comumente chamada de zika, a febre é causada pelo vírus transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue. Essa doença se caracteriza por manchas vermelhas na pele, acompanhadas de coceiras, vermelhidão nos olhos, febre baixa e dor nos músculos e articulações. São sintomas semelhantes aos da dengue, porém mais leves, que surgem em cerca de dez dias após a picada do inseto.
Eliminar os criadouros do Aedes são as primeiras medidas para evitar a doença. Outras precauções, especialmente para as grávidas, são o uso de repelentes de insetos. Nesse caso, é importante que o produto seja registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para garantir a segurança das gestantes, que devem seguir as instruções no rótulo.
Quando confirmou sua gravidez, Thaís e seu marido (Lúcio) passaram na farmácia para se prevenirem contra o mosquito. “A partir desse dia, eu tomei banho de repelente”, conta, dizendo que o medo da zika era tanto que durante o verão inteiro permaneceu em casa calçada de meia e tênis para não ser picada e que a toda hora lembrava a seu marido para usar o repelente também. “Eu acho que fui uma das mais obcecadas com isso”, admite.
Segundo Fernanda, a zika era o assunto principal das mulheres no início do grupo e que, por isso mesmo, a preocupação tomou uma proporção jamais imaginada. “Imagine 31 mulheres falando disso principalmente!”, diz, acrescentando que o receio a obrigou a evitar lugares com muita gente e que o uso do repelente tornou-se um sacrifício. “Eu tive muito, muito enjoo por conta do repelente.”
As trocas de experiências e as precauções adotadas pelas gestantes tiveram como resultado o nascimento de bebês saudáveis, sem infecções pelo Aedes. Para Thaís e Fernanda, o grupo as ajudou a superar os nove meses de gravidez, que, por causa da zika, não foram tranquilos. “Se eu tivesse passado pela gravidez sem o grupo, teria sido uma gravidez mais insegura ainda”, diz a dentista. “Se não fossem as meninas, eu teria ficado louca”, conta a assistente social.
Tristeza e alegria no grupo Mamães 2016
O grupo “Mamães 2016” foi criado em 4 de janeiro de 2015 pela dentista Fernanda Gonçalves Barbosa e teve como primeiras participantes a administradora de empresa Maira Gomes Magalhães e a artesã Alexandra Honório. Fernanda conta que se inspirou em outro grupo, o “Mamães Corujas”, que ela já conhecia através de sua prima Carolina.
De acordo com Fernanda, Maira e outras integrantes, Thaís Cristina Mattar Rezende Fernandes (assistente social), Maria Bárbara Negrinho Pereira (fisioterapeuta) e Alexandra Honório, além do receio com o vírus Zika, as gestantes passaram pela tristeza de uma perda, Benício, por causa de complicações no parto de sua mãe, Alexandra, mas tiveram a alegria de ter duas participantes mães de gêmeos – uma delas (Márcia) havia pedido para ser aceita no grupo porque tinha muitas dúvidas e, por isso, precisava de ajuda de quem “estava passando pela mesma situação”.
Pouco tempo depois de iniciado, o “Mamães 2016” já tinha quase 50 membros, mas foi reduzido para 31, ficando apenas aquelas com participação ativa. “Trocamos muitas experiências, temos muita intimidade com todas e podemos dividir as nossas dúvidas. Conseguimos aprender uma com a outra e a trocar experiências vividas com nossos bebês, maridos... e como tudo muda com a chegada da maternidade!”, relatam, observando que Alexandra, mesmo sem seu bebê, continua participando das atividades do grupo, do qual sempre teve apoio para superar a perda.
Enio Modesto