Com as mulheres cada vez mais ativas profissionalmente e independentes no Brasil, o interesse dos casais em ter um filho vem sendo deixado para segundo plano. Elas estão engravidando após os 30 anos de idade para priorizar a carreira profissional, uma mudança de comportamento iniciada na década de 1960, quando mais mulheres ingressaram nas universidades e no mercado de trabalho. No entanto, se por um lado elas obtêm um ganho profissional com essa decisão de engravidar mais tarde, por outro, assumem riscos de complicações da saúde, até mesmo para o bebê.
Segundo a médica Denise Ribeiro Tâme, especialista em ginecologia e obstetrícia, a idade considerada ideal para engravidar vem evoluindo ao longo do tempo. Cerca de 50 anos atrás, o ideal era a faixa etária de 18 a 25 anos. Atualmente, a indicação é entre 20 e 30 anos. “Diante dessa tendência de engravidar mais tardiamente, é possível que daqui a alguns anos esses números sejam revistos e esse período, alargado significativamente”, analisa a médica.
Essa tendência mencionada pela doutora Denise é bem provável de acontecer, se levarmos em conta casos de gravidez bem sucedida em idade mais avançada, como a da assistente administrativa Juliana Castanhel Oliveira. Ela engravidou aos 34 anos de idade, após 11 anos de casada com Adilar Julio Oliveira (gerente de compras), e gerou Lívia, uma garotinha saudável de quatro anos (veja matéria na página 52).
Números do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam o crescimento do índice de mulheres que priorizam o trabalho em detrimento do sonho de serem mães. Entre os anos de 2000 e 2012, o percentual daquelas que deixaram para engravidar após os 30 anos subiu de 22,5 para 30,2%, segundo o Ministério da Saúde. Os números cresceram mais ainda na faixa entre 35 e 39 anos, de acordo com o IBGE, que constatou um crescimento de 26,3% num curto período de dois anos – entre 2013 e 2015.
RISCOS
O problema é que quanto mais velha a mulher, além da infertilidade que se torna mais comum, maior é a predisposição dela a uma série de complicações da saúde, da gestação, do parto e do aumento da probabilidade da criança sofrer alterações genéticas.
“Após os 35 anos, a reserva ovariana declina acentuadamente assim como a qualidade dos óvulos. Associam-se ainda as doenças prevalentes nessa faixa etária como miomatose, endometriose e alterações tubáreas, tornando a infertilidade mais comum após essa idade”, explica Denise Tâme.
Ainda de acordo com a ginecologista, as complicações mais comuns a que as mães tardias estão predispostas são a hipertensão arterial (5-17%), o diabetes mellitus (4-17%), maior número de cesarianas (15-92%), trabalho de parto prematuro (6-21%), placenta prévia (1-5%), amniorrexe prematura (5-25%) e abortamentos.
A idade avançada também aumenta a chance do bebê nascer com alterações genéticas, sendo a síndrome de Down a principal delas, cuja prevalência é de uma para cada 100 mulheres acima de 40 anos. Em termos de comparação, esse índice cai de uma para 1.500 para as gestantes de 20 anos. O baixo peso do bebê no nascimento e as gestações múltiplas (gemelares) associadas às técnicas de fertilização em vitro também acontecem com maior frequência entre as mães com mais idade.
PADRÃO
Segundo a doutora Denise Tâme, esse padrão das mulheres que optam pela maternidade após os 30 anos surgiu nos anos de 1960, quando elas se tornaram mais ativas, passando a estudar mais e a buscarem maior espaço no mercado de trabalho. Junto a esse novo comportamento, o desenvolvimento de métodos anticoncepcionais seguros lhes permitiu planejar a gravidez para um momento mais oportuno, até mesmo após os 35 anos de idade.
“Por causa das complicações associadas à gestação tardia, os médicos redobram a vigilância no pré-natal. Nós profissionais que lidamos com essas pacientes, devemos nos adequar a esse novo padrão da mulher moderna, possibilitando tornar viável o sonho da maternidade a muitas mulheres, mesmo que em idade mais avançada”, avalia a médica, que tem atendido em seu consultório cada vez mais pacientes nessas condições.
De acordo com Denise Tâme, as pacientes precisam ser bem orientadas por seus médicos e serem informadas dos riscos e da evolução da gestação tardia. No entanto, a tecnologia em reprodução humana permite nos dias atuais, adiar a maternidade, pois as mulheres (as solteiras) podem congelar seus óvulos ainda com boa qualidade ou os embriões (as casadas).
“Porém, vale ressaltar, as taxas de gravidez após os 40 anos são mais baixas, mesmo com técnicas de reprodução assistida”, observa a médica, chamando atenção também para quem já passou dos 45 anos.
“Após os 45 anos, não obtemos mais gravidez com óvulos próprios, apenas com ovodoação (óvulo doado por outra mulher)”, disse, acrescentando que nas técnicas de reprodução assistida os médicos especialistas fazem um screening genético dos embriões, para examinar suas células e garantir às mulheres mais velhas um bebê saudável, com chances de sucesso de até 99%.
Gestação protege contra cânceres
As mulheres nuligestas, que não tiveram filhos, são mais suscetíveis a desenvolverem câncer de mama na menopausa do que aquelas que se tornaram mães antes dos 30 anos, segundo a ginecologista e obstetra Denise Ribeiro Tâme. A explicação para esse aumento de risco está nos hormônios da gravidez, que influenciam as células da mama a desenvolverem mecanismos que as protegem da doença.
A maternidade também ajuda as mulheres a terem menores riscos de câncer de ovário e de endométrio, a cada gravidez, porque o equilíbrio hormonal desloca-se para a progesterona (hormônio predominante na gestação).
Já os anticoncepcionais aumentam o risco de câncer de mama, embora reduzam os riscos de cânceres de ovário e endométrio, sendo menor risco quanto maior for o tempo de uso dos contraceptivos.
Gravidez “super planejada”
Eu engravidei com 34 anos por meio de uma gravidez super planejada. Completei 35 anos em novembro e a Lívia chegou em janeiro de 2013. Estávamos casados há 11 anos quando, juntos, decidimos aumentar a família, explica.
Juliana e Adilar decidiram que só teriam filhos após a estabilidade financeira e a conquista de bens materiais desejados. Com essa opção, no entanto, Juliana passou a sofrer advertências quanto à idade, mas conseguiu superá-las.
“Sempre ouvia aquela pressão de que eu deveria logo engravidar, que eu já tinha passado dos 30 anos, mas minha ginecologista sempre respeitou minha decisão e disse que era mais aconselhável que eu me decidisse por ser mãe até os 35 anos, devido ao aumento dos riscos durante a gravidez”, conta.
Chegando próximo da idade em que o risco de complicações é maior e já decidida a engravidar, Juliana teve preocupações somente em relação à filha. Nunca tive receios quanto à minha saúde, pois sempre fui saudável e ativa, então evitava pensar nessas coisas. Apenas tinha receio de que algo pudesse ocorrer com a saúde do bebê, mas superei tudo ao longo da gestação, que foi perfeita, sem nenhuma complicação nem comigo, nem com o bebê e nem com o parto”, disse.
Depois do nascimento de Lívia, Juliana e Adilar pensaram em dar um irmãozinho a ela, o que seria a realização de um sonho do casal: “Sempre pensávamos que um dia teríamos dois filhos. Sonhávamos, brincávamos... (risos), mas a proximidade dos 40 anos pesou na decisão pelo contrário.”
“Foi uma decisão, realmente, difícil! Pois saber que ela não terá irmãos ‘de sangue’, mas somente os que a vida a presenteará, nos trouxe uma grande pressão, a qual foi superada com muita avaliação e diálogo entre nós, e, hoje, posso dizer que me sinto muito segura desta decisão!”, conforma-se.
Hoje, o casal avalia como certa a prioridade pela realização profissional e financeira e por gerar uma filha em idade mais madura, mesmo com os riscos. Foi a melhor decisão que tomei em minha vida! Com ela (Lívia), descobri que não existe amor maior, não existe maior doação que se possa fazer, e não existe maior aprendizado e evolução que possamos ter como seres humanos de forma gratuita e prazerosa. É um amor que transborda do peito, pois os filhos são, de verdade, a herança do Senhor em nossas vidas. É mágico!”, conclui.