GERAÇÃO ALPHA
O ser humano vive ciclos de mudanças que geram ganhos e perdas, evoluções e regressão, construção e destruição, amor e ódio, e no extremo dessas dualidades surgem questionamentos existenciais, tais como o futuro da humanidade e o próprio sentido da vida.
A maturidade nos impõe viver o presente, pois aprendemos com o que vivemos no passado. E vivendo o presente devemos planejar o futuro. Os tempos passados nos oferecem dados que nos ligam à ‘GERAÇÃO X’ - nascidos até 1980. Sou da época em que sentávamos na sala com a família para admirarmos a TV colorida. Ela era uma TV em branco e preto com uma tela de plástico grosso de três cores. Em cima o azul do céu, no meio o amarelo alaranjado e embaixo o verde da natureza. Achávamos o máximo! Vivíamos felizes esta nova evolução. Escrever e ler, aprender datilografia, corte e costura, brincar na rua, sentar e conversar nos jardins, ir à igreja, brincar de queimada ou esconde-esconde. Rir muito. Crescer? Um pouquinho de cada vez, porque afinal, havia muito tempo para ser criança. O futuro podia esperar...
Nos tempos modernos nos deparamos com a ‘GERAÇÃO Y’ (de 1980 a 2000), já estando em contato com o início dos computadores. Depois veio a ‘GERAÇÃO Z’, que participou da era dos celulares e, a partir de 2010, chegou a ‘GERAÇÃO ALPHA’ que vive todo o boom tecnológico. E, pasmem!, os bebês já poderão ter, em breve, tablets acoplados em seus carrinhos.
HIKIKOMORI
O mundo global nos conduz ao isolamento. O excesso de informações acaba nos confundindo e distorcendo nossos valores chegando a dúvidas quanto ao que os pais realmente desejam para seus filhos.
Há mudanças no linguajar dos jovens que passam a usar mais códigos do virtual distanciando-se da comunicação com outros seres humanos.
A SÍNDROME DO ISOLAMENTO EM CASA (Hikikomori) estudada no Japão ou popularmente chamada de ‘Síndrome da porta fechada’ já é realidade em outros países da Europa e também no Brasil. Nela, jovens se perdem e se isolam em seus quartos e vivem os jogos como se fossem sua própria vida. Suas mentes são possuídas e, em casos extremos, trocam a necessidade de sono, de alimento, idas ao banheiro e outras essencialidades pelo prazer de jogar, vencer e quebrar recordes.
Os dispositivos eletrônicos, fones de ouvidos, tablets, celulares, computadores cada vez mais espetaculares e sedutores envolvem e viciam. Os jogos em rede formam grupos fortalecidos pelos objetivos de matar, destruir, vencer a qualquer preço, enganar, mentir, excitar-se ou persuadir. Jogos de morte são oferecidos a quem ainda nem teve tempo de viver.
Perante a análise das consequências da Tecnologia da Informação e da informática em excesso no desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes houve a inserção dos diagnósticos de usuários com uso desadaptativo (não saudável) de tecnologia no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria.
As doenças mentais como o estresse, ansiedade e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) podem ser potencializadas pela intensidade dos estímulos, o que geram comportamentos de irritabilidade e nervosismo.
O uso inconsequente dos jogos, da informática e da internet provoca o surgimento de outras questões influentes na saúde física e mental dos usuários: Dificuldade de espera das finalizações, reações quanto às frustrações, hábitos impróprios à convivência social, desinteresse pela escola porque ‘ela é devagar e chata’ comparada ao tecnológico, problemas físicos por ficarem sentados horas diante da telinha.
No uso excessivo dos dispositivos eletrônicos, as crianças, muitas vezes, adquirem problemas de insônia, tornam-se sedentárias e seus relacionamentos com outras crianças diminuem. Ficam fixadas só nos amigos virtuais e a preguiça para o esforço se instala.
PAIS COM DÚVIDAS
Saber lidar com seus filhos em meio a esse boom tecnológico é um questionamento comum dos pais, conforme apontam os estudos. Os pais estão confusos quanto ao seu lugar frente ao tecnológico. As dúvidas maiores referem-se a: “O uso de computadores deve ser liberado ou limitado? Quanto tempo é adequado?”; “O limite de checar, bloquear conteúdos é invadir a privacidade do filho?”; “Qual o limite de idade para oferecer o recurso eletrônico?”; “Como lidar com as redes sociais?”; “Quando se configura em dependência?”; “E o futuro, onde vamos parar?”
Cada família deve responder, ela mesma, a essas questões conforme a realidade de cada uma, de forma a encontrar uma solução que seja adequada para o bom desenvolvimento emocional da criança, sem privá-la dos recursos que a modernidade oferece. Os pais são os modelos reais de uma criança e podem dar as referências para os melhores valores, comportamentos e afetos. ‘Acordos’ fazem parte de uma boa convivência.
REFLEXÕES E CONCLUSÕES
• A função dos pais é serem guias e mediadores entre seus filhos e os recursos virtuais. Busque o equilíbrio através de acordos e escuta.
• Entenda que todos têm desejos (Eu quero?), necessidades (Eu preciso?) e principalmente condições (Eu posso?). O equilíbrio é sempre a melhor solução.
• A família precisa construir um espaço de entendimento e amor para que, todos juntos possam aproveitar de todo o recurso positivo da tecnologia, que ensina a pesquisar, conhecer, compartilhar informações, comunicar, interagir, brincar.
• Utilizar a tecnologia de forma responsável, produtiva e afetiva nos garante a possibilidade de um futuro melhor no desenvolvimento das relações humanas. O tempo de reflexões e mudança é agora!
• Os pais não são os culpados, mas sim os responsáveis pela condução dos filhos. A função dos pais é serem guias e mediadores.
DICAS DE ESTUDIOSOS da Psicologia aos pais quanto ao recurso tecnológico
Permissões de conteúdos relacionados com a faixa etária são necessários.
Devemos ensinar aos filhos autodisciplina e autocontrole; eles ainda não possuem maturidade para sozinhos exercê-los.
Incentive mais o social do que o virtual. Atividades com os amigos, esportes e lazer são sempre bem-vindos.
Contenha, com ensinamentos de valores, o uso exagerado da tecnologia.
Lembre-se: o excesso pode causar deficiências de sono, alteração de padrões alimentares, queda no rendimento escolar e prejuízos no desenvolvimento da criança.
Surgem outras dificuldades físicas como problemas relacionados à coluna e postura, irritabilidade e agressividade, sedentarismo, comportamentos egoístas e declínio da empatia pela falta de convívio social.
A diferença entre invasão de privacidade e limites está na ação madura dos pais de conduzir a tecnologia como recurso de desenvolvimento e não, recurso de adoecimento.
Faça uma autoavaliação sobre o seu uso adulto do meio tecnológico. Pais são modelos importantes de identificação de crianças e jovens em formação.
A tecnologia é uma realidade sem volta. Por isto devemos tê-la a nosso favor.
Devemos usar o recurso para resgatar nossas relações afetivas com os filhos e crescermos juntos.
O tecnológico pode ser mais um recurso para os pais estarem atentos e conectados com a realidade de seus filhos.
Eduquem vocês, seus filhos.Não deixem o tecnológico fazê-lo.
Regras, horários, tempo limite, precisam ser exercidos com bom senso e coerência.
As crianças são vítimas e não vilãs. Podemos ajudá-las!
O tecnológico pode prejudicar a percepção das emoções, seu entendimento e expressão.
Conectar-se pode ser muito bom, mas saber a hora melhor de desconectar-se é essencialmente importante.
PAIS TAMBÉM ESTÃO EM XEQUE
Em análise dos efeitos da tecnologia da informática, com seus jogos digitais e redes sociais, sobre o desenvolvimento emocional das crianças, é citado também uma curiosa pesquisa igualmente realizada com crianças.
A pesquisa foi realizada pela revista infantil norteamericana Highlights, que ouviu 1.521 crianças de seis a doze anos de idade. A grande maioria delas questiona o comportamento dos próprios pais, conforme alguns dados a seguir:
- 62% das crianças reclamam que os pais estão muito distraídos para ouvi-las;
- 65% dos pais se distraem quando conversam com os filhos;
- 48% usam o celular enquanto brincam com o filho;
- 71% usam seus smartphones enquanto dirigem.
Por outro lado, a pesquisa mostra que:
- 56% dos pais verificam e controlam o acesso dos filhos aos meios digitais;
- 23% não controlam nada e
- 11% às vezes verificam.
Outras pesquisas mostram que a capacidade das pessoas se manterem em atenção caiu de 13 (treze) segundos para 8 (oito) segundos, o que interfere na qualidade das conversações.
PSICOLOGIA CONFIRMA REFLEXOS DA TECNOLOGIA NAS CRIANÇAS
O Congresso de Psicologia realizado em Campinas, em outubro de 2016, revelou uma série de confirmações dos reflexos da tecnologia digital no desenvolvimento emocional das crianças:
A partir do momento em que a tecnologia substituir a relação humana ela é prejudicial; O acesso precoce e excessivo à internet e tecnologias causa alterações no desenvolvimento global das crianças; Tecnologias podem causar danos à sociabilidade e às convivências com os amigos reais; A comunicação falada e escrita fica toda distorcida e confusa; A geração X diria: “Depois nos falamos, amigo”. A geração Y expressa: “Falou, amigo”, e a geração Z comunica assim: “ Flw”. Como será que a geração Alpha se comunicará?
Com os hábitos tecnológicos, algumas doenças se intensificam; a acomodação gera a obesidade, isolamento, ansiedade, nervosismo e preguiça para o esforço; qualquer excesso e qualquer falta deve ser repensada pelos pais.
por Maria de Lourdes Carvalho S. Silveira