Isto se associa a um aumento significativo de comorbidades, tais como diabetes tipo 2 (DM2), hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença cardiovascular, apneia do sono, doenças musculoesqueléticas (como osteoartrose, por exemplo), depressão, infertilidade e neoplasias.
Na prática clínica o cálculo do índice de massa corporal (IMC), representado pelo peso (em quilos) dividido pelo quadrado da altura (em metros), é ainda o índice mais utilizado para o diagnóstico da obesidade. O IMC tem cálculo simples e rápido, apresentando boa correlação com a adiposidade corporal.
O tratamento da obesidade deve ter como objetivo principal a melhora do bem-estar e da saúde metabólica do indivíduo, diminuindo os riscos de doenças na vida futura. O conceito de melhora da saúde metabólica do paciente tem por base que a perda de peso é apenas a fase inicial do tratamento, sendo a MANUTENÇÃO DO PESO perdido o objetivo principal. Este tratamento é desafiador e deve ser baseado em um tripé: Dieta, atividade física e tratamento farmacológico, quando indicado.
A DIETA a ser elaborada depende dos hábitos de vida de cada paciente, da profissão, das atividades diárias e seus horários, devendo, sempre que possível, ser personalizada e exclusiva e levar em consideração a taxa metabólica basal (número de calorias que o indíviduo gasta em um dia). Não existe dieta milagrosa, e é fundamental que apesar da restrição calórica que é necessária para perder peso, a dieta seja equilibrada e rica em vitaminas, fibras e minerais. Além disso, a dieta deve ser sempre associada à atividade física.
O EXERCÍCIO AERÓBICO (como andar de bicicleta, caminhar, correr, nadar, jogar tênis e futebol e outros) pode promover perda de peso e de massa adiposa (gordura) e exercícios de resistência (como musculação, ginástica localizada com peso, pilates) são importantes para preservar a massa magra (músculo) e o metabolismo basal. Além disso, com o exercício regular existe uma maior chance de manutenção de peso com sucesso após o período da perda de peso.
O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO da obesidade está indicado na presença de índice de massa corpórea maior que 25 kg/m2 (pacientes com sobrepeso) com outras doenças associadas à obesidade (HAS, DM2, osteoartrose, síndrome da apneia obstrutiva do sono, dentre outras), ou em pacientes com IMC maior que 30 kg/m2 (pacientes com obesidade), quando ocorre falência do tratamento não farmacológico (dieta e atividade física) isoladamente.
Apesar do reconhecimento da obesidade como uma doença ainda é extremamente escasso o arsenal terapêutico medicamentoso para essa patologia no nosso país. Temos atualmente disponíveis no mercado brasileiro apenas 4 medicamentos aprovados em bula para tratamento da obesidade e sobrepeso: sibutramina, orlistate, liraglutida e lorcaserina. Esta última, apesar de aprovada pela Anvisa no fim de 2016, ainda não se encontra disponível nas farmácias.
Existem ainda, medicamentos utilizados de maneira off label. Isto significa que esses fármacos foram desenvolvidos inicialmente para tratamento de outras doenças como ansiedade, depressão leve, falta de energia, compulsão alimentar, impulsividade, enxaqueca e outras. No entanto, com o conhecimento maior dessas medicações e seu emprego na prática clínica para o tratamento da obesidade, observamos que causam perda de peso na maioria dos pacientes. Assim, hoje em dia são cada vez mais utilizadas diretamente com esta finalidade, mesmo sendo outras as suas indicações de bula. Neste grupo estão presentes sertralina, fluoxetina, bupropiona, topiramato e lisdexfentamina (Venvanse ®).
Mais de 80% dos pacientes obesos, mesmo que altamente motivados, falham em conseguir perder peso apenas com atividade física, dieta e modificações do estilo de vida, sendo de grande importância que existam medicamentos seguros e eficazes para o tratamento desta doença. Com a perda de peso, ocorrem mecanismos e respostas fisiológicas adaptativas, como aumento do apetite e redução do gasto energético basal (metabolismo), que dificultam a manutenção do peso perdido.
E COMO MANTER O PESO PERDIDO?
Estudos evidenciam que para cada quilo de peso perdido, calcula-se uma redução do gasto energético (metabolismo) de cerca de 30 kcal, e um aumento do apetite de aproximadamente 100 kcal!
É o nosso organismo tentando nos levar de novo ao peso original! O problema é que normalmente se pensa que o engordar novamente foi “culpa” do tratamento que se fez, e não “culpa” da doença em si, que é crônica e recidivante. Ora, se paramos um tratamento de uma doença crônica como hipertensão, diabetes, colesterol não é natural que o efeito do tratamento se perca? Por isso que advogo que obesidade deve ser tratada cronicamente ou seja para sempre (pode ser com medicação ou sem, mas algum tratamento deve sempre existir).
Enfim, nos últimos anos, a obesidade tem sido considerada uma doença metabólica e neuroendócrina que resultada interface entre um ambiente obesogênico e uma predisposicão genética e para que o emagrecimento aconteça e seja sustentado, é necessário uma parceria entre o médico e o paciente, ou seja é preciso “emagrecer juntos” associando uma dieta hipocalórica equilibrada + exercício físico e tratamento farmacológico individualizado quando indicado.