A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Passos atende, em média, 450 pessoas por dia. São pacientes não apenas da cidade, mas também de municípios da região, porque a UPA passense é de porte 3, de acordo com os padrões do Ministério da Saúde, devendo atender uma população de 200 a 300 mil pessoas. O problema é que a unidade sofre com a carência de recursos, especialmente por parte do Estado, para dar conta da demanda, o que reflete na qualidade do serviço disponibilizado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
O resultado são as reclamações de pacientes e seus acompanhantes, que se tornaram comuns desde que a unidade entrou em funcionamento no final do ano de 2008. Falta de médicos, medicamentos e outros materiais, bem como a demora no atendimento, são algumas queixas apresentadas.
Outro grave problema são os pacientes que precisam aguardar na UPA a liberação de vagas em leitos do SUS para serem internados em hospitais. Em alguns casos, as pessoas permanecem vários dias em quartos de observação da unidade aguardando a transferência.
“Dois idosos estão esperando vagas há sete dias”, afirma Janaína Maria da Silva, que acompanhava um sobrinho de 35 anos de idade, com pneumonia e intoxicação, e também aguardava a liberação de leito hospitalar havia quatro dias. “Eles não dão solução nenhuma (sic)”, queixou-se.
A liberação de leitos em hospitais compete ao SUSFácil, através da Central Reguladora de Alfenas. O SUSFácil é um sistema do governo de Minas Gerais criado para agilizar os serviços de média e alta complexidades em saúde, como as internações hospitalares, para a população.
Elexandra Helena Bernardes - Secretária Municipal de Saúde de Passos.
Segundo a Secretária Municipal de Saúde, Elexandra Helena Bernardes, a situação da UPA já foi diagnosticada e diversos problemas foram confirmados ou descobertos. Para resolvê-los e melhorar as condições de trabalho dos médicos e enfermeiros e, principalmente, a qualidade do serviço para os usuários, algumas medidas estão sendo implantadas. “Estamos regularizando o estoque de medicamentos, o conserto e a manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos, a falta de médicos e o problema da assepsia (limpeza)”, disse.
Outras providências foram treinar os servidores para prestarem um atendimento “humanizado” e a criação da figura do “médico-âncora” para auxiliar os colegas plantonistas na assistência aos pacientes que aguardam a liberação de leitos do SUS para internação.
“O médico-âncora é um profissional, dentre os três clínicos que manteremos no plantão, designado para avaliar com mais frequência a evolução dos pacientes que aguardam internação e, se necessário, fazer contato com o SUSFácil para agilizar as internações”, explica Elexandra Bernardes.
Janaína Maria da Silva: Usuária da UPA.
Parte dessas medidas que poderão melhorar o conceito dos usuários sobre a Unidade de Pronto Atendimento de Passos foi proposta pela comissão constituída pelo prefeito Renatinho Ourives no início do ano para analisar a situação da unidade. A comissão é formada por representantes da Uemg (Universidade do Estado de Minas Gerais), Ministério Público e Conselho Municipal de Saúde, que confirmaram as reclamações dos usuários.
Após esse início de trabalho da comissão, a Secretaria de Saúde, em junho, viu os problemas se agravarem com o corte de mais leitos do SUS pela Santa Casa. “Nos últimos dez dias aumentaram as dificuldades para a internação de pacientes”, contou Elexandra Bernardes, lembrando que a Santa Casa, já havia interditado alguns leitos do SUS no final do ano passado.
“Tem paciente que fica na UPA cinco, seis dias, aguardando vaga hospitalar”, disse a secretária, contando que, por isso, em momentos considerados de “pico”, a Secretaria de Saúde tem aumentado o número de profissionais médicos e de enfermagem no plantão para suportar a demanda.
SANTA CASA
Consultado pela Foco, o diretor-executivo da Santa Casa, Daniel Porto Soares, explicou que há 30 leitos do SUS de retaguarda da emergência interditados por questões financeiras, mas que a direção do hospital está trabalhando junto ao Ministério da Saúde para qualificá-los, através de novo credenciamento, e voltar a ofertar mais vagas para os pacientes do SUS. “Sem essa adequação financeira a manutenção dos leitos torna-se impossível”, ressaltou.
ATENÇÃO PRIMÁRIA
Só as melhorias no pronto atendimento não bastam como solução, segundo a Secretária de Saúde. É preciso corrigir outro problema que afeta a qualidade do serviço da UPA devido à alta demanda: o atendimento nas unidades básicas de saúde, que são os postos do PSF (Programa de Saúde da Família) e os ambulatórios.
Devido às próprias características do pronto atendimento - que oferece atendimento 24 horas, medicação e exames na hora - as pessoas preferem as unidades básicas pelo serviço de urgência e emergência. Para Elexandra Bernardes, essa demanda pela UPA “é até cultural”, “porque a população vem de uma cultura hospitalar” em vez de se prevenir. “E 80% não são casos de UPA”, afirma.
A secretária admite, no entanto, que existem fragilidades na rede de atenção primária à saúde e explica que, por outro lado, nem toda a população passense é assistida pelo Programa de Saúde da Família, que só alcança 60% dos usuários do SUS na cidade.
Nesses aspectos, a Secretaria de Saúde também vem tomando providências, entre elas a reelaboração do formato de atendimento, deixando espaço na agenda dos médicos para casos de urgência - o que evitaria que o paciente recorresse à UPA.
A exemplo do médico-âncora da Unidade de Pronto Atendimento, que auxiliaria o trabalho dos colegas, no PSF haveria também um profissional para dar apoio aos outros médicos, avaliar o serviço, o cumprimento de protocolos e ajudar nas dificuldades.
No setor de enfermagem, a Secretaria de Saúde destacou um enfermeiro para cada seis ou sete unidades para auxiliar na reorganização do trabalho das equipes, promover capacitação profissional e dar suporte aos colegas, cobrindo férias, faltas, dentre outras necessidades eventuais.
Esse enfermeiro-apoiador também é encarregado de auxiliar nos ambulatórios, que ampliaram a oferta de serviços mais perto da população, como os testes rápidos de doenças sexualmente transmissíveis (Aids, sífilis e hepatite). Outras funções desse profissional extra são implantar protocolos e participar de reuniões de avaliação de indicativos e metas na atenção básica.
Segundo Elexandra Bernardes, tudo isso visa uma melhor “resolutividade” dos serviços nas unidades básicas, para evitar que o paciente precise do serviço de emergência. “A atenção primária teria que resolver 80% das demandas daquela área”, observa a secretária.
NOVAS UNIDADES
Entretanto, segundo Elexandra Bernardes, a procura pela UPA só irá cair, acentuadamente, se o PSF da cidade for ampliado. Contando atualmente com 19 unidades, mas com teto para chegar a 54, Passos está com quatro novas equipes autorizadas pelo Ministério da Saúde desde o ano de 2014, das quais duas estão sendo implantadas. A explicação pela demora foi a lentidão do processo de seleção das equipes que irão trabalhar nesses novos postos.
De acordo com a Secretária Municipal de Saúde, o prefeito Renatinho determinou que uma dessas unidades seja instalada na Vila Betinho, região da Cohab, que não tem qualquer cobertura da atenção primária em saúde e é uma das responsáveis pelo aumento da demanda da UPA. Outro novo posto de PSF foi instalado no antigo CSU, próximo à UPA, para o qual a Secretaria de Saúde está recadastrando a população da área - formada por parte dos bairros Santa Luzia e Bela Vista.
USUÁRIOS DÃO DEPOIMENTOS
Para pacientes e acompanhantes, apesar de problemas estruturais, há profissionais no atendimento da UPA atenciosos e empenhados.
Inês Resende Sarno, moradora do bairro da Penha, elogia o atendimento dos profissionais, mas se queixa da falta de medicamentos.
A Unidade de Pronto Atendimento de Passos, a UPA, recebe críticas quanto à estrutura, mas é aprovada em relação aos serviços médicos e de enfermagem. Alguns usuários afirmam que só procuram o pronto atendimento por causa da dificuldade de conseguir consultas médicas em postos do Programa de Saúde da Família (PSF), perto de casa.
São casos como os de Sandra Aparecida da Silva e Marli Aparecida Oliveira, que, ironicamente, trabalham na assepsia de PSFs, mas preferem a UPA pelo atendimento mais rápido e pela medicação que recebem no local. “Fui bem atendida pelos dois médicos que passei e pelas enfermeiras também”, afirmou Sandra, dizendo que em menos de uma hora foi atendida.
“Em vista das outras vezes que eu vim, (hoje) até que não demorou muito não”, conta Marli, dizendo que em cerca de 40 minutos seu filho Kaleb, de seis meses, foi examinado pelo plantonista. “No postinho (PSF ou ambulatório) é difícil, às vezes não somos atendidos no mesmo dia”, observou.
Inês Resende Sarno, moradora do Bairro da Penha, procurou a UPA com sintomas de depressão e aguardava a ambulância para ser levada para a Santa Casa, mediante encaminhamento do médico. Satisfeita com a assistência, Inês, no entanto, se queixa em relação aos remédios: “Em alguns casos, falta medicamento. Mas não é culpa deles. Eles são muito bons, são muito bem capacitados”, avaliou.
Também para Micaela Lorraine da Silva, que reside no Recanto da Teka e procurou a UPA com cólicas de rins, é preciso agilizar o serviço de exames de emergência, que, segundo ela, demoram muito para serem feitos. Quanto ao atendimento médico segundo ela, “até que foi rápido, mais ou menos 30 minutos”, disse.
Segundo a secretária municipal de Saúde, Elexandra Helena Bernardes, o abastecimento da UPA com medicamentos já foi regularizado e o atendimento nos postos de PSF está sendo reestruturado para atingir a meta (leia no texto principal).
Enio Modesto