A médica ginecologista Dra. Denise Ribeiro Tâme.
A endometriose é conhecida como “doença da mulher moderna”, já que o aumento da incidência parece sofrer influência do estilo de vida nos grandes centros urbanos, onde a mulher tem menos filhos, e portanto, menstrua mais, engravida mais tarde, e convive com altas taxas de estresse no seu cotidiano.
De acordo com a ginecologista Dra. Denise Ribeiro Tâme, a endometriose é uma patologia frequente na prática do consultório de ginecologia e obstetrícia, e constitui um grave problema de saúde pública, uma vez que interfere na qualidade de vida de mulheres em idade reprodutiva e ativas socialmente.
“É uma doença que atinge seis milhões de brasileiras e 175 milhões de mulheres em todo o mundo. O endométrio é o tecido que reveste o útero para receber o óvulo fecundado.
Não havendo fecundação o endométrio descama, sendo expelido na menstruação. Numa estatística entre 10% e 15% das mulheres, as células do endométrio que seriam expelidas pelo fluxo menstrual, migram no sentido oposto e voltam para os ovários ou para o interior da cavidade abdominal, na região pélvica, afetando órgãos como intestino, bexiga e ureter. Ao se multiplicarem fora da cavidade uterina provocam uma reação inflamatória conhecida como endometriose”, explica a ginecologista.
O diagnóstico de endometriose baseia-se na anamnese ginecológica detalhada, no exame físico (especular e toque vaginal) e exames de imagem, como ultrassom transvaginal, com preparo intestinal, ou ressonância magnética da pelve. “A colonoscopia está indicada caso houver queixa gastrointestinal (como sangramento retal, por exemplo) e laparoscopia diagnóstica, se os sintomas persistirem e os exames de imagem acima mencionados derem negativos. O marcador tumoral CA125, durante muitas décadas, foi usado como diagnóstico, porém, por não ser específico para endometriose, tem sido usado apenas para seguimento nos casos onde o resultado é positivo antes do tratamento”, afirma Dra. Denise.
A ginecologista diz que os sintomas mais comuns da endometriose são: dismenorreia severa (cólicas menstruais), dor pélvica acíclica, dispaurenia de profundidade (dor na relação sexual), disúria cíclica (dor ou desconforto ao urinar), disquezia cíclica (defecação dolorosa) e infertilidade (dificuldade para engravidar). Ainda segundo a médica, alguns pacientes apresentam sintomas gerais como letargia, cansaço extremo, náuseas e vômitos.
“É uma doença que atinge seis milhões de brasileiras e 175 milhões de mulheres em todo o mundo...”
“O tratamento da endometriose consiste no uso de analgésicos e anti-inflamatórios para o controle das dores intensas no período menstrual. Também é recomendável o uso de anticoncepcionais orais, progestágenos isolados, ou DIU (Dispositivo Intrauterino Hormonal - Mirena) na tentativa de reduzir e regular o ciclo menstrual, impedindo o crescimento exagerado do tecido endometrial extrauterino. Outra opção é o uso de medicamentos que diminuem a produção de estrogênio pelos ovários, interrompendo o ciclo menstrual e proliferação do endométrio como análogos do GnRH e danazol”, observa a doutora.
Segundo a médica, o tratamento consiste na ressecção cirúrgica dos pontos acometidos pela implantação endometrial em ovários, trompas, peritônio, bexiga ou intestino, “embora o tratamento não possa garantir a cura, uma vez que se trata de uma doença crônica com altas taxas de recidiva.”
A ginecologista afirma que no Brasil, das mulheres consideradas inférteis, de 25% a 50 % apresentam o diagnóstico de endometriose, o que impede uma gestação bem sucedida. “Pacientes que desejam engravidar se beneficiam de técnicas de reprodução assistida, como inseminação artificial ou fertilização in vitro, e tratamento cirúrgico, uma vez que o tratamento medicamentoso hormonal atua como contraceptivo e inviabiliza a gravidez. As pacientes devem ser individualizadas e proposto a elas o tratamento específico, de acordo com o grau de acometimento da doença”, ressalta.
Prevenção
A Dra. Denise Ribeiro Tâme afirma que os sintomas da endometriose diminuem após a menopausa, uma vez que ocorre queda na produção dos hormônios femininos, levando a redução das lesões pélvicas. “Recomenda-se que portadoras de endometriose pratiquem atividade física com frequência e mantenham hábitos de vida saudável, a fim de melhorar a imunidade do organismo. Quanto à alimentação e o consumo de bebida alcoólica, ainda não houve comprovação da interferência direta destes hábitos nos sintomas da endometriose”, finaliza.
Renato Rodrigues Delfraro