A psicóloga Iácara Nogueira: Diversos fatores contribuem para o abalo emocional dos estudantes, que começa pela pressão que eles sentem por ter que dar uma resposta à expectativa da família e amigos, e a si próprios, quanto ao seu futuro profissional.
A estudante Beatriz de Oliveira Faria, 17 anos de idade, passava mal toda véspera de prova. Ela sentia tremores e náuseas, não conseguindo fazer os exames escolares. Esse problema começou no final de 2016, seu penúltimo ano no ensino médio e início dos preparativos para o vestibular. Beatriz estava com sintomas típicos de ansiedade e estresse que afetam muitos jovens como ela que estão na fase de ingressar numa universidade.
De acordo com a psicóloga Iácara Nogueira, diversos fatores contribuem para o abalo emocional dos estudantes, que começa pela pressão que eles sentem por ter que dar uma resposta à expectativa da família e amigos, e a si próprios, quanto ao seu futuro profissional. E o ingresso no ensino superior é o caminho a ser trilhado para atingir esse objetivo.
“A sociedade em si cobra, os colégios cobram porque querem resultados, a família também cobra, às vezes indiretamente, e isso tudo gera a ansiedade do aluno. Em alguns essa preocupação começa logo que entram no ensino médio, outros são alunos que já sabem sua escolha e apresentam uma autocobrança, exigência”, disse a psicóloga cognitiva comportamental com MBA em gestão de pessoas, que atua em planejamento de carreira e orientação profissional.
A estudante Beatriz de Oliveira Faria.
PLANEJAMENTO
Sem planejamento, a pressão social sobre os jovens os deixa ansiosos e estressados, segundo Iácara Nogueira, causando-lhes irritabilidade e nervosismo, preocupação elevada, dificuldade de se relacionarem com outras pessoas e afastando-os das atividades de lazer. Sentindo-se pressionados, eles também se tornam ansiosos, agitados e alguns tendem a desenvolver até compulsão por algo, como alimentos; ficando, também, preocupados com o futuro profissional e com o que “os outros vão pensar” deles, caso não tenham sucesso.
“Devemos entender que ansiedade é algo que todos têm, o que muda de um para o outro é a intensidade, que é gerada pelo medo, insegurança e baixa autoestima”, observa a psicóloga, acrescentando que esses sintomas surgem porque os jovens não são preparados emocionalmente para se lançarem a um desafio tão grande com tão pouca idade.
“Infelizmente, os alunos são preparados para o pré-vestibular de maneira que são focados no conteúdo das disciplinas, nas notas e nos resultados e deixam de lado a segurança do aluno, que poderia ajudá-lo a lidar com a concorrência do vestibular”, disse. “Encontra-se, na clínica, alunos que têm o conhecimento teórico, mas não têm inteligência emocional para enfrentar a pressão e concorrência”, prossegue a psicóloga.
TREMORES
As dificuldades emocionais dos vestibulandos são tão graves que chegam a se manifestar fisicamente. A estudante Beatriz de Oliveira Faria sabe bem o que é isso, desde o final do ano passado, quando ela estava prestes a terminar o segundo ano do ensino médio.
A ansiedade era tanta que a jovem tremia e sentia enjôo antes das provas. Hoje, preparando-se para o vestibular de medicina, Beatriz sabe o que a afligia na época. Era a indecisão sobre que curso que gostaria de fazer. Ela tinha cinco opções e tinha dúvidas sobre cada uma delas: Química, Engenharia de Minas, Petróleo ou Aeronáutica e Medicina.
“Eu estava muito indecisa, gosto muito de exatas, mas também gosto muito de relacionamento com pessoas. O que mais me pressionava era a indecisão. Depois que a gente decide, é só focar no vestibular”, disse, explicando que vem se tratando contra a ansiedade desde abril com Iácara Nogueira, que também a ajudou a definir seu rumo profissional, Medicina, através de um acompanhamento de orientação profissional.
Com a ajuda da psicóloga, Beatriz concluiu que poderia unir duas profissões numa só, aproveitando sua facilidade com as disciplinas de ciências exatas e biológicas e sua vocação social. “Como médica, eu posso dar aulas de química também, mas como química eu não poderia atuar como médica”, disse.
Iácara Nogueira diz que sempre “bate na mesma tecla” de que os jovens devem alinhar três fatores para decidir que carreira seguir: habilidades, que vão gerar satisfação com a profissão escolhida; mercado de trabalho, se há demanda; e remuneração, que é importante para atingir os objetivos de vida. Algo que os jovens devem entender: trabalho não é apenas obrigação e dever. Por outro lado, fazer o que amamos não é apenas fazer o que gostamos.
“É muito difícil unir esses três grandes opostos, mas é possível, porque fazemos um trabalho de autorreflexão com o estudante: VISÃO – onde ele quer chegar como profissional? VALORES – família, sucesso, reconhecimento, status e missão – o que ele quer deixar de legado? Ao jovem nessa idade falta esse conhecimento. Ele precisa de ajuda profissional, pois possibilitará autoconhecimento, identificar seu perfil profissional, conhecer as profissões e planejar seus objetivos e metas de vida”, observa.
Enio Modesto