Dr. Ciro Jabur Pimenta Graduação em Medicina pela UNICAMP Residência em Ortopedia e Traumatologia pela UNICAMP
Também conhecida como Síndrome de Joanina Dognini, a Fibromialgia é uma desordem caracterizada por dor musculoesquelética generalizada, acompanhada por fadiga, sonolência, além de alterações de humor e memória. É uma doença que vem afetando uma grande quantidade de pessoas, principalmente mulheres, e sobre a qual ainda não há muitas informações precisas. Pesquisadores acreditam que nessa doença há uma alteração no processamento cerebral da dor, com a amplificação de sinais dolorosos.
OS PRINCIPAIS SINTOMAS DA FIBROMIALGIA SÃO:
1 - DOR GENERALIZADA: dores crônicas com mais de três meses de duração, maçantes, que têm como característica o acometimento de ambos os lados do corpo, acima ou abaixo da cintura. Podem ser migratórias.
2 - FADIGA: pessoas com Fibromialgia frequentemente acordam cansadas, mesmo após dormir por longos períodos. O sono frequentemente é interrompido por dor, e muitos apresentam outros distúrbios, como síndrome das pernas inquietas e apneia do sono.
3 - DIFICULDADES COGNITIVAS: um sinal de alerta para a Fibromialgia ocorre em pessoas que além da dor, apresentam dificuldade de concentração, em focar e prestar atenção ao realizar tarefas mentais, mesmo que simples.
De acordo com o ortopedista Dr. Ciro Jabur Pimenta, a Fibromialgia frequentemente coexiste com outras doenças que causam dor, como Síndrome do Intestino Irritável, Enxaqueca e outros tipos de dores de cabeça, Desordens da Articulação Temporo Mandibular e Endometriose.
“Ainda não se conhece completamente as causas da Fibromialgia, embora sabe-se que muitos fatores são envolvidos conjuntamente, entre eles, alterações genéticas, quadros infecciosos e traumas físicos ou emocionais. Muitos doentes desenvolvem o quadro após um episódio traumático agudo, como um acidente de carro, ou mesmo psicológico, como estresse no trabalho. Outros não possuem um evento desencadeante conhecido, e começam a referir os sintomas gradualmente”, ressalta Dr. Ciro.
Segundo o ortopedista, pesquisas vêm demostrando que estimulações elétricas repetidas causam alterações no cérebro de pessoas com Fibromialgia. Estas alterações envolvem um crescimento anormal nos níveis de substâncias químicas cerebrais que sinalizam a dor, conhecidas como neurotransmissores. Além disso, os receptores de dor cerebrais parecem desenvolver um tipo de memória e tornam-se mais sensíveis, o que significa que reagem exageradamente aos sinais de dor.
“Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome estão o sexo (mulheres são diagnosticadas mais frequentemente do que homens), fatores genéticos (se um parente apresenta fibromialgia, o risco aumenta) e outras doenças reumatológicas, como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e osteoartrite. Entre as principais complicações, estão o desenvolvimento de Depressão e outros Distúrbios de Ansiedade, devido principalmente a má compreensão da doença e pelos sintomas de dor contínua e alterações do sono”, explica.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
No passado, os médicos testavam 18 pontos específicos no corpo de uma pessoa para descobrir quantos deles eram dolorosos à pressão digital (aproximadamente 4 kg de força). “Novas diretrizes não exigem mais esses testes. Hoje em dia, pessoas com dores generalizadas pelo corpo por mais de três meses e sem outro fator médico que poderiam justificar os sintomas, são diagnosticadas com Fibromialgia”, salienta Dr. Ciro.
Segundo o médico, o diagnóstico é clínico, ou seja, realizado através da conversa com o paciente e pelo exame físico. Não há nenhum teste laboratorial ou de imagem que confirme a fibromialgia, sendo os mesmos indicados apenas para descartar outras doenças com sintomatologia parecidas.
“Sabemos que os sintomas de dor e alterações do humor impactam diretamente na função diária dos pacientes, seja no trabalho ou em casa. Fibromiálgicos têm uma queda importante na qualidade de vida. Apesar de não ter cura, o tratamento medicamentoso e a mudança nos hábitos de vida podem melhorar drasticamente o dia a dia destes pacientes”, observa Dr. Ciro.
ENTRE AS PRINCIPAIS OPÇÕES TERAPÊUTICAS, PODEM SER OFERECIDAS:
1 - MEDICAÇÕES: analgésicos, como Dipirona e Paracetamol ou mesmo opioides, como Tramadol e Codeína; relaxantes musculares e antidepressivos tricíclicos, que podem melhorar a qualidade do sono; antidepressivos (ISRS ou ISRSN), como Duloxetina e Minalciprano; alguns anticonvulsivantes, como a Gabapentina e a Pregabalina (esta, sendo a primeira medicação aprovada pelo FDA para o tratamento da Fibromialgia). Devem ser evitadas medicações anti-inflamatórias não hormonais e corticosteroides, principalmente pelos seus efeitos colaterais a longo prazo.
2 - TERAPIA FÍSICA: Fisioterapia, a fim de melhorar o alongamento e força globalmente, além de melhora postural; Terapia Ocupacional, que pode realizar ajustes no trabalho evitando posturas viciosas e causando menos estresse laboral.
3 - PSICOTERAPIA: que pode ajudar na melhora da confiança além de ensinar táticas ao lidar com situações estressantes.
4 - PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS: exercícios aeróbicos e de baixo impacto são comprovadamente eficazes no tratamento da Fibromialgia. Pilates e hidroginásticas estão entre as modalidades mais recomendadas.
5 - MUDANÇAS ALIMENTARES: diminuição do consumo de cafeína, aliada a uma alimentação saudável, podem levar a uma perda de peso, com aumento da autoestima e melhora da fadiga.
6 - MEDICINA ALTERNATIVA: terapias complementares e alternativas no controle do estresse e alívio da dor não são novas, sendo algumas delas conhecidas a milhares de anos – como yoga e acupuntura. Observamos um aumento crescente do seu uso nos últimos anos, sendo uma de suas grandes vantagens a segurança, quando realizados com profissionais experientes. Apesar de muitos ainda não terem seus benefícios comprovados pela falta de estudos adequados, seu uso vem sendo cada vez mais aceito pela medicina tradicional.
Dr. Ciro ressalta ainda que pessoas com sintomas de dor migratória no corpo há mais de três meses, com sintomas de fadiga e alterações do sono, devem ser avaliadas por um especialista. Reumatologistas, ortopedistas e neurologistas são alguns dos especialistas mais indicados para diagnosticar e conduzir o tratamento da doença. O médico alerta ainda que deve-se evitar a automedicação, e o acompanhamento especializado aumenta muito a expectativa de controle da doença, que ainda não tem cura.
“Devemos sempre lembrar que saúde não é um bem que se ganha ou que se compra, mas sim que se conquista. Portanto, mudanças alimentares e no estilo de vida, reduzindo estresse no trabalho ou em casa, e o aumento de atividades que aumentam o prazer e melhoram a auto estima podem trazer a melhora não só da Fibromialgia, mas também de diversas outras doenças relacionadas a distúrbios de Ansiedade e Depressão, tão comuns nos consultórios hoje em dia”, finaliza.
Renato Rodrigues Delfraro