Dr. Flávio Henrique B. De Simoni Médico Psiquiatra pelo Instituto Bairral de Psiquiatria Residente em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela USP
Médico pela FAMERP e Università di Roma Co-autor do Livro: Dependência Química – Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas – 2a Edição – ARTMED Brasil
Dependência Química é uma síndrome caracterizada por sinais e sintomas comportamentais, fisiológicos e cognitivos, havendo o uso contínuo de drogas, apesar dos problemas graves provocados por elas. Dentre esses sintomas, encontramos a perda de controle do usuário em relação ao uso, consumindo quantidades maiores de drogas para obter o mesmo efeito de antes. O indivíduo pode gastar muito tempo para obtê-las, usá-las ou recuperar-se de seus efeitos. Em muitos casos, praticamente todas as atividades diárias da pessoa giram em torno da droga. Outro sintoma é a fissura: um desejo ou necessidade intensa de usar a droga, a ponto de não conseguir pensar em mais nada. A abstinência ocorre após uso prolongado e intenso, com sintomas variáveis, podendo incluir náuseas, cefaleia, dores musculares, inquietação, irritabilidade, convulsões, dentre outros mais graves.
O uso de substâncias também pode resultar no fracasso em cumprir as principais obrigações no trabalho, na escola ou no lar. O indivíduo pode continuar o uso da substância apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais persistentes causados ou exacerbados por seus efeitos. Atividades importantes de nível social, profissional ou de lazer podem ser abandonadas ou reduzidas devido ao uso. O indivíduo pode afastar-se de atividades em família ou passatempos a fim de usar a substância.
Além disso, o uso da substância pode assumir um nível que coloque em risco a integridade física da pessoa, continuando o uso apesar de estar ciente de apresentar um problema físico ou psicológico causado ou piorado pela substância. O indivíduo fracassa em abster-se da substância, apesar da dificuldade que ela está causando.
Atualmente, sabemos também, que quanto mais precoce o início do uso de álcool e outras drogas, maior o risco de desenvolvimento de dependência durante a vida, mesmo que em quantidades relativamente pequenas. Embora não se fale muito, existe uma força frequente da Indústria do Álcool e de outras drogas de fazer com que adolescentes iniciem precocemente o uso dessas substâncias, de forma a garantir um público para o futuro. Exemplo disso é a tentativa de associar o uso de álcool a ambientes muito frequentados por jovens, além de fazer propagandas com jovens consumindo esses produtos. Vemos também, a busca por colocar bebidas que tenham um sabor mais suave em que o gosto de álcool seja menos intenso no mercado, a fim de introduzir cada vez mais precocemente os jovens no mundo do álcool.
NO BRASIL
O LENAD II (2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) analisou a prevalência de consumo de diversas drogas no Brasil, além dos desfechos negativos e consequências sociais relacionados a elas. Álcool e tabaco lideram como as principais drogas em quantidade de usuários no Brasil. Quanto às ilícitas, a maconha aparece em 1º lugar, com cerca de 3% da população afirmando ter feito uso no último ano e a cocaína em 2º lugar, com 1,7% da população. O uso de outros estimulantes aparece em 3º lugar. Observou-se que, cada vez mais, a idade da 1ª experimentação entre crianças e adolescentes é mais precoce. Evidencia-se também estreita relação entre o uso de drogas e violência doméstica, violência urbana, saúde mental e qualidade de vida.
TABAGISMO
O tabagismo no Brasil vem caindo nos últimos anos. Isso se deve à conscientização da população acerca dos danos à saúde causados pelo cigarro, além de políticas públicas de proibição do tabagismo em locais públicos e da proibição de propagandas na mídia. O Estudo LENAD II mostrou que de 2006 a 2012 houve redução de 20,8% para 16,2% na porção da população adulta que se declara tabagista. Ainda assim, o cigarro é uma das substâncias que mais causam dependência. Fumantes apresentam grande número de tentativas de parar de fumar até que realmente consigam. O aconselhamento de um profissional da saúde qualificado pode ser fundamental para esse sucesso.
MACONHA
A maconha é a “bola da vez” quanto ao apelo midiático e às controvérsias sobre seu uso, sob a fachada de droga da contracultura, das “mentes abertas”, além do seu potencial uso como tratamento para um restrito grupo de doenças. Pouco se diz sobre os seus efeitos psiquiátricos e de saúde em geral. Ela aumenta muito o risco de desenvolvimento de sintomas psicóticos nos usuários e havendo história familiar de Esquizofrenia, há uma chance aumentada em 30 vezes de o usuário desenvolver essa gravíssima patologia. Usuários frequentes de maconha apresentam uma prevalência maior de transtornos de ansiedade, além de prejuízos de memória, atenção e controle inibitório. Ao contrário do que se diz, a maconha causa dependência.
CRACK
O Brasil vem passando, nas últimas décadas, pela maior epidemia de uso de crack do mundo. O crack é uma droga de produção barata e de alto poder adictivo, o que tem feito dela um perigoso elemento nas mãos de traficantes. As consequências sociais de seu uso, como ocupações clandestinas em locais de fácil acesso e a forte dependência instalada nos usuários, fazem dela um dos maiores desafios às políticas de saúde contra o uso de drogas.
Por fim, cabe acrescentar que, muitas vezes, o consumo de drogas também ocorre como forma de “automedicação” frente a sintomas depressivos, ansiosos, de desatenção ou hiperatividade, devido à relativa sensação de melhora momentânea trazida por algumas dessas drogas. Cabe dizer que, a longo prazo, elas pioram esses sintomas. O auxílio médico especializado permite maior sucesso no tratamento da Dependência Química, de forma eficaz e segura.