Dr. Matheus Schmidt Soares - Neurocirurgião
Segundo ele, trata-se de um implante de eletrodo cerebral profundo para tratamento do Parkinson, conhecido entre os médicos como DBS (Deep Brain Stimulation – estimulação cerebral profunda). “A técnica cirúrgica em si é a colocação de um eletrodo num ponto específico do cérebro que é calculado através da fusão de imagens de tomografia e ressonância e esse eletrodo é introduzido através de uma técnica chamada estereotaxia, para conseguir achar o ponto exato em que a ponta do eletrodo vai ficar. Esse eletrodo é como se fosse um fio de condução elétrica, ligado a um gerador que funciona como um marca-passo”, explica Schmidt.
Conforme adianta, esse marca-passo emitirá impulsos elétricos através desse eletrodo e vai acontecer então uma estimulação da região específica do encéfalo, chamado núcleo subtalâmico. A estimulação deste, por sua vez, vai causar uma neuromodulação nos circuitos relacionados ao movimento e relacionados à doença. Em suma, o estímulo elétrico neste núcleo vai minimizar os sintomas da doença de Parkinson que são os tremores, a rigidez dos músculos, o jeito de andar, enfim, o distúrbio de marcha melhora também, detalha o neurocirurgião.
O procedimento realizado na Santa Casa de Passos é de altíssima complexidade, e necessita de equipamentos muito avançados para programação estereotáxica, com um treinamento intensivo, a longo prazo, para conseguir realizar a cirurgia, conforme salientou o neurocirurgião.
“Esse primeiro procedimento na Santa Casa foi realizado pelo SUS, pois a Santa Casa está credenciada pelo Sistema para fazer esses procedimentos, porém a liberação pelo Estado dessas cirurgias é incerta. Temos muitas dificuldades de realizar o procedimento pelo SUS, assim, em alguns momentos conseguimos a liberação das cirurgias e em outros momentos, não. Precisamos, portanto insistir sempre”, otimizou o médico. Quando conseguimos é uma vitória, como essa primeira que nos faz comemorar com louros, ressalta. “Coincidentemente, a cirurgia se realizou no momento em que o Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa de Passos, comemora 40 anos de existência. Implantado à época pelo provedor e neurocirurgião, Dr. Vivaldo Soares Neto, um dos pioneiros da neurocirurgia no interior do Estado, desde então, o serviço vem evoluindo e dando resposta a questões de alta complexidade. Hoje já é referência no estado de Minas Gerais”, pondera Matheus. Ele adianta que a perspectiva do Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa de Passos é criar um serviço de referência em tratamento de distúrbios anormais de movimento e doenças de Parkinson. A Santa Casa já está à frente, pontua.
Cirurgia de altíssima complexidade.
O Parkinson
Quando se fala em doença de Parkinson, a primeira imagem que vem à mente das pessoas é a de um paciente cujas mãos tremem insistentemente quando está parado. Apesar de ser um dos sintomas mais frequentes, não é o único e nem é presente em todos os pacientes, conforme destaca Dr. Matheus. Outros sintomas também são presentes, como a rigidez muscular, a bradicinesia (lentidão de movimentos ou ausência de movimentos) e a instabilidade postural (deficiência de equilíbrio e coordenação), entre outros.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1% da população mundial acima de 65 anos tem a doença de Parkinson. No Brasil, a estimativa é de que ela acometa mais de 200 mil pessoas. “Trata-se de um distúrbio anormal de movimentos que atinge pessoas geralmente a partir da 5ª década de vida. Na maioria das vezes, consegue-se um bom controle da doença com a medicação, porém, em alguns casos em que essa medicação não é suficiente para controlar, ou em situações em que há muitos efeitos colaterais do remédio, então está indicada a cirurgia, porque com ela consegue-se reduzir muito a quantidade de medicações”, relata Matheus, lembrando que os pacientes que são potencialmente candidatos à cirurgia passam por uns testes específicos para avaliar se eles realmente têm indicação. “A doença de Parkinson acontece, quando há a diminuição da Dopamina, uma substância encontrada no cérebro, principalmente em uma região chamada de ‘substância negra.’ Isto promove uma alteração no funcionamento do sistema nervoso central, causando os distúrbios de movimento e outros sintomas encontrados na doença.
Existem fatores genéticos envolvidos na causa do Parkinson e também fatores ambientais ainda desconhecidos. “É uma doença neurodegenerativa, é progressiva e não tem cura. Tanto o tratamento clínico com medicações, quanto as cirurgias, não são considerados tratamentos curativos e sim tratamentos que controlam os sintomas da doença, muitas vezes efetivamente,” otimiza Dr. Matheus Schmidt.
Arlete Porto Soares