Coronel Gilson de Oliveira Wesceslau (presidente) e Vânia Piassi (vice-presidente) fundadores da Associação de Apoio aos Catadores de Materiais Recicláveis de Passos (AAÇÃO RECICLAGEM).
A ideia de mobilizar um grupo de pessoas para buscar a destinação correta para os resíduos sólidos que podem ser reaproveitados surgiu em 2017, durante a Campanha da Fraternidade, que naquele ano tinha o seguinte tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, e cujo lema era “Cultivar e guardar a Criação”. Era a segunda vez que a Igreja Católica abordava um tema relacionado ao meio ambiente.
A consultora de etiqueta Vânia Piassi, membro da Paróquia de São Benedito, juntamente com outros paroquianos da mesma Igreja se mobilizaram durante a Campanha da Fraternidade para buscarem uma solução para a questão da reciclagem do lixo. O Coronel Gilson de Oliveira Wenceslau, aposentado da Polícia Militar de Minas Gerais e professor universitário tinha as mesmas aspirações de Vânia, e também realizava na Paróquia de São Luís Monfort um trabalho voltado para a reciclagem do lixo, ideia que começou a amadurecer pouco antes de se aposentar.
Com um vasto currículo na área ambiental, Gilson Wenceslau foi comandante do Pelotão da Polícia Militar de Meio Ambiente em Passos durante oito anos, e assessorou durante três anos o Comando Geral da Polícia Militar em Belo Horizonte. Wenceslau tem mestrado na área ambiental pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), e é professor na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Agentes ambientais da AAÇÃO RECICLAGEM no Centro de Triagem de Materiais Recicláveis.
Com a experiência e o conhecimento de causa do Coronel Wenceslau, o apoio de voluntários, o envolvimento de catadores de materiais recicláveis e o engajamento de Vânia Piassi, foi fundada a Associação de Apoio aos Catadores de Materiais Recicláveis de Passos (AAÇÃO RECICLAGEM). A associação é presidida por Gilson Wenceslau e tem Vânia Piassi como vice-presidente. A diretoria ainda é composta por Nivaldo Oliveira Souza (operador de sistema elétrico e comunicações), Nélio dos Reis Amorim (professor e advogado), Sebastião Aparecido Viana de Faria (funcionário público), Jane Soares Maia Lemos (empresária). Todos os membros da diretoria são voluntários.
“A ideia surgiu da necessidade de tomar uma consciência de proteção ao meio ambiente, e assim, resolvemos batalhar pela Coleta Seletiva em Passos, buscando que o poder público assumisse essa responsabilidade, que é dele, já que só a inciativa privada não tem condições. O poder público tem que estar envolvido. Todas as cidades vizinhas, como Itaú de Minas e São João Batista do Glória, têm coleta seletiva, e Passos não tem. Resolvemos então fazer um abaixo assinado e conseguimos 17.000 assinaturas, que foram entregues ao prefeito durante o Desfile de 14 de maio de 2017. A ideia surgiu dois meses antes do Dia da Cidade”, explica Vânia.
Posteriormente foi protocolado o projeto na Prefeitura Municipal de Passos e no Ministério Público Estadual, pedindo a implantação da Coleta Seletiva na cidade. De acordo com o coronel Wenceslau, atualmente é coletado em Passos cerca de 60 toneladas de lixo por dia, segundo dados da Prefeitura. “Se a cidade tivesse a coleta seletiva, daria para reaproveitar aproximadamente 40 toneladas do lixo que é destinado ao aterro sanitário, incluindo chorume e material orgânico para compostagem. Isso necessita de uma estrutura e possibilitaria envolvimento de várias associações que envolvem catadores”, explica.
Enquanto aguarda a resposta do poder público municipal para que o projeto seja implantado em toda a cidade, a AAÇÃO RECICLAGEM vem trabalhando de forma organizada e estabelecendo parcerias com escolas e outros setores da comunidade. A entidade funciona num barracão localizado na Avenida Arlindo Figueiredo, em frente à rodoviária, onde está instalado o Centro de Triagem de Materiais Recicláveis.
“A AAÇÃO RECICLAGEM não é uma associação de catadores e nem quer concorrer com os catadores da cidade, e sim, apoiar os catadores, como está no nome da associação. É essa a nossa finalidade social. Nós queremos evitar que o material que pode ser reaproveitado vá para o aterro sanitário. No Centro de Triagem trabalham 10 pessoas, que são responsáveis por fazer a separação do material que é recolhido no comércio, nas indústrias e demais instituições da cidade, além da coleta que é feita porta a porta em 92 residências do bairro Novo Mundo”, afirma o Coronel Wenceslau.
A AAÇÃO RECICLAGEM também vem desenvolvendo projeto de educação ambiental nas escolas, que é o “Terça Sustentável”, uma ação que ocorre todas as terças-feiras e tem por objetivo promover a conscientização ambiental através da educação. “Nós iniciamos este trabalho no Colégio Tiradentes e já está sendo desenvolvido também na Escola Municipal Professora Francina de Andrade. O aluno leva de casa materiais reciclados para a escola, através de um trabalho de orientação que é feito na própria escola. Nós compramos o material por um valor simbólico, que é utilizado na compra de livros e outras melhorias na escola. Nossa intenção é fazer que este trabalho aconteça em todas as escolas de Passos, fazendo com que os estabelecimentos de ensino sejam Pontos de Entrega Voluntária de Material Reciclável (PEV). Já levamos a ideia para a Superintendência Regional de Ensino e para a Secretaria Municipal de Educação, só que para isso acontecer precisamos de mais estrutura” explica Wenceslau.
O Coronel ressalta o apoio que a associação recebeu da Justiça do Trabalho instalada em Passos, que com a autorização do Ministério Público do Trabalho destinou um recurso decorrente de ação judicial para a AAÇÃO RECICLAGEM. O recurso foi utilizado na aquisição de uniformes, EPI (material de segurança) e ventiladores para o Centro de Triagem.
Outro ponto enfatizado pelo Coronel Wenceslau é a necessidade dos moradores higienizarem o material que vai ser encaminhado para o Centro de Triagem, deixando-o menos insalubre para o recolhimento e manuseio dos catadores. “Restos de materiais como garrafas de refrigerante, leite e outros produtos lácteos, nós pedimos que as pessoas enxaguem antes de doar, para facilitar o trabalho de triagem. Há uma diversidade de catadores na cidade, têm os que realizam essa atividade motivados por demandas fixas ou eventuais, têm os que atuam para completar renda. A renda que vem do Centro de Triagem atualmente mantém 10 famílias de forma direta, já que são pessoas que trabalham no Centro, e indiretamente, mais de 30 famílias. Este catador que trabalha conosco no Centro de Triagem, nós o chamamos de agentes ambientais, visto a necessidade do colaborador ter perfil adequado, considerando as diversas demandas referentes a coleta e triagem de materiais”, afirma.
A produção atual da entidade é em torno de 50.000 kg de material reciclável por mês, entre plástico, papel e sucata em geral. O capital de giro necessário para manter a associação varia entre R$ 22.000,00 e R$25.000,00 por mês, incluindo todos os gastos com cota salário, aluguel e demais despesas. “Nós passamos a cesta básica e ainda pagamos uma cota salário, que vem do esforço dos agentes ambientais. Tudo que é gasto no Centro de Triagem vem do trabalho do Centro de Triagem. Isso é sustentável. A associação, para sua manutenção, ainda não recebe dinheiro do poder público. Com parte das ações sociais, mensalmente são adquiridas 25 cestas básicas; 10 vão para os catadores que trabalham no Centro de Triagem, e as demais são distribuídas para familiares que participam do projeto”, ressalta Wenceslau.
Segundo o coronel Wenceslau, para não carregar muito peso, o catador algumas vezes vai recusar alguns materiais, como vidro e jornal, que são materiais de baixo valor, “mas o cidadão pode fazer a entrega diretamente no Centro de Triagem. O ideal é o morador repassar o material reciclável para o catador mais próximo de sua residência, caso isto não seja possível, o morador poderá fazer a entrega voluntária no Centro de Triagem”, salienta.
O coronel Wenceslau e Vânia Piassi afirmam que o mais importante para o êxito deste trabalho é o envolvimento da comunidade, de forma consciente, mudando a cultura de como encaminhar o lixo. Por isso é importante a parceria e a colaboração de todos.
Renato Rodrigues Delfraro