Joane Mara Maia Conte Fonoaudióloga - “As habilidades socioemocionais não estão inseridas nas novas tecnologias.” Instagram: @contejoane
A importância do cérebro é tão grande que foram criadas duas datas mundiais para promover a saúde desse órgão vital e prevenir doenças relacionadas a seu funcionamento. A primeira é a Semana Internacional do Cérebro, comemorada em março, e a segunda, o Dia Mundial do Cérebro (22 de julho). Saber como funciona esse órgão e aproveitar bem sua capacidade são fundamentais para se ter uma vida saudável e alcançar um envelhecimento de qualidade.
Segundo a fonoaudióloga Joane Mara Maia Conte, franqueada de uma rede de escolas que ensinam as pessoas a utilizarem melhor o cérebro, quando ele é bem conhecido e bem tratado, as pessoas se relacionam melhor em casa, na escola, no trabalho, aproveitam melhor a velhice, com mais saúde, para enfrentar o declínio natural das atividades cerebrais relacionadas ao envelhecimento.
Por outro lado, a falta de atenção com esse que é o mais importante órgão do sistema nervoso pode levá-lo a limitar suas atividades, reduzindo as conexões cerebrais e, consequentemente, afetando o desenvolvimento das habilidades cognitivas – atenção, percepção, memória, raciocínio e linguagem – que são fundamentais para o bom aproveitamento de suas capacidades.
Ainda conforme Joane Conte, as novas gerações já estão sendo afetadas pelas “pouquíssimas conexões” que as células de seus neurônios realizam. Elas têm inteligência cognitiva, ligada ao intelecto e raciocínio, mas falta-lhes a inteligência emocional que os avanços tecnológicos ainda não são capazes de oferecer à humanidade. “As habilidades socioemocionais não estão inseridas nas novas tecnologias”, observa.
Jogo da memória - um ótimo exercício para o cérebro.
MATURAÇÃO DO CÉREBRO
Essa carência se deve, sobretudo, ao mau uso das tecnologias de comunicação, como a TV, internet, celular e as redes sociais, que diminuem a formação da mielina, substância que contribui para a condução mais rápida dos impulsos elétricos dos neurônios, retardando a maturação do cérebro.
“O que significa, por exemplo, a criança que fica muito tempo diante da televisão? Ela realiza pouquíssimas conexões cerebrais, dificultando a mielinização e a maturação do cérebro. Com isso elas perdem toda a possibilidade de desenvolver as habilidades socioemocionais que poderiam ter. E hoje piorou muito por causa do celular”, diz Joane Conte.
Infelizmente, a falta dessas aptidões só fica nítida quando constatamos não conseguir lidar com os desafios, erros, perdas e, às vezes, nem mesmo com as vitórias e conquistas. A carência de inteligência emocional aparece também quando não conseguimos nos relacionar bem em sociedade, cooperar e colaborar com as pessoas, nos comunicar adequadamente, a lidar com as regras, etc.
“A escola, os pais e a sociedade percebem isso de um modo geral, mas só quando aparecem as consequências”, lamenta Joane Conte, observando que essas aptidões que são comuns a todos nós têm que ser estimuladas no dia a dia, desde a infância, para que nosso cérebro chegue à velhice bem preparado para suportar o declínio de suas faculdades.
Jhully Cristina Rosa Nunes: “De nada adianta chegar aos 90 anos sem independência e saúde mental.”
DEMÊNCIAS
Um cérebro em que não foram desenvolvidas todas as capacidades para a realização de atividades variadas está sujeito ao aparecimento de doenças que causam um declínio no funcionamento do organismo humano. São as demências, que se manifestam pela perda de memória, da capacidade intelectual, raciocínio e da sociabilidade, além de alterações emocionais.
O Alzheimer, Parkinson, demência com corpos de Lewy, demência vascular e demência frontotemporal são os tipos mais comuns dessas degenerações cerebrais. Estas afetam mais de 47 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Alzheimer é a mais prevalente, com participação de 60% a 70% entre todos os tipos de demência. Só no Brasil, mais de um milhão de pessoas sofrem com o Alzheimer.
Joane Conte explica que, embora nem todo mundo esteja sujeito às demências quando ficar idoso, naqueles que estão propensos, a instalação dessas doenças será tardia e com sintomas mais leves, se o cérebro for bem tratado no decorrer da vida.
E o envelhecimento da população brasileira, com as taxas de longevidade ficando cada vez mais altas, é motivo para as pessoas se preocuparem em garantir que o cérebro chegue saudável na velhice. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as estimativas de crescimento da população indicam que no ano de 2030 o Brasil terá mais idosos do que crianças e em 2050 um em cada três brasileiros terá mais de 60 anos de idade.
GINÁSTICA
Segundo a publicitária Jhully Cristina Rosa Nunes, que trabalha na escola de Joane Conte, muitos pais já estão se preocupando com a saúde do cérebro de seus filhos, e também adultos têm procurado aproveitar todas as capacidades que o órgão oferece. “As pessoas estão preocupadas com o funcionamento e exploração do potencial cerebral”, afirma, explicando que o número de alunos de ginástica para o cérebro praticamente dobrou no período aproximado de um ano.
“De nada adianta chegar aos 90 anos sem independência e saúde mental. A ginástica cerebral promove bem-estar, qualidade de vida e, principalmente, longevidade”, diz Jhully.
Outro fator que merece atenção é que a neurociência já comprovou que o declínio do desempenho cognitivo (responsável pelo intelecto e raciocínio) começa antes dos 30 anos de idade, mas, ao mesmo tempo, essa perda pode ser compensada com as experiências e conhecimentos adquiridos.
Por isso, segundo Joane, aprender coisas novas, rechear a mente com experiências e informações de qualidade são meios para que o cérebro compense a diminuição das atividades cognitivas. Por isso, ela oferece algumas dicas:
“Alguns meios para trabalhar o cérebro são o relacionamento interpessoal com os pais, família, amigos, a troca de informações com pessoas de idades diferentes, aprender novos conteúdos, ouvir histórias de vida”, recomenda, acrescentando que a prática de esporte, caminhadas, ouvir músicas de gêneros variados e ler livros são também essenciais para que o cérebro se mantenha ativo e saudável.