Chênia Le Sénéchal Maia Arrouk
CRP 04/21408 Psicóloga, Terapeuta Psicocorporal Morfoanalista, especialização em Psicossomática Psicanalítica e Neurociências, pela Soc. Bras. de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), assistente de formação em Terapia Morfoanalítica.
Você já parou para pensar que aquela dor nas costas ou a dor de cabeça persistente pode ter origem no seu estado emocional? Sim, isso é possível acontecer.
Somos um sistema indissociável corpo-mente. O que afeta o corpo reflete no nosso estado emocional, e o que afeta o estado emocional, reflete no nosso corpo.
Ainda é difícil considerarmos essa influência do nosso estado emocional na nossa saúde física, pois ainda trazemos essa dicotomia mente/corpo, tratando cada um como se fossem unidades separadas. Mas, não são.
Quando você sente uma emoção, se você prestar atenção à sensação da emoção, vai notar que sente isso em algum lugar em seu corpo. Pode refletir em seu estômago, no seu peito, na garganta, cabeça, ou em qualquer outro lugar do corpo. Nem sempre essa percepção é tão clara, por isso a importância de se ter consciência de seus sentimentos e emoções e poder, pouco a pouco, desenvolver essa capacidade de decodificação dessa linguagem corporal.
Por vezes vivemos situações que podem nos levar a uma condição de estresse, ansiedade e tristeza tão grave que o nosso estado mental e emocional transcende e acaba afetando o nosso corpo físico. Como por exemplo, quando se está sob forte pressão no trabalho, ou quando se passa por um rompimento amoroso abrupto, pela perda de um ente querido, etc...
Como exatamente as emoções afetam nosso corpo?
Nosso corpo tem um mecanismo de sobrevivência arcaico que nos ajuda a reagir diante de algum perigo, liberando os chamados “hormônios do estresse”, tais como cortisol, adrenalina, noradrenalina, etc., onde ele entra num estado em que se prepara para lutar ou fugir.
Na presença do estresse, os músculos ficam tensos, causando dores específicas. A tensão, por sua vez, aumenta o cortisol no sangue, alterando o ritmo cardíaco. Tudo isso altera o organismo de uma forma geral, inclusive a musculatura, ficando tensionada e refletindo-se em dor.
A grande questão é que este estado pode ser provocado pelos nossos pensamentos e sentimentos, sem que uma determinada situação de perigo real esteja acontecendo de fato. O cérebro não faz essa distinção entre o que é provocado por um fator real ou por um pensamento.
Algumas das respostas fisiológicas desse estado de tensão são:
• Sensações de formigamento nas mãos e pés: devido ao sangue ser bombeado dos órgãos para as extremidades (para lutar ou fugir);
• Sintomas gastrointestinais: ausência de fome ou até mesmo dificuldade para comer/engolir, já que a função do sistema digestivo fica minimizada em estado de estresse.
• O sono é prejudicado, já que num estado de luta ou fuga você está constantemente em estado de alerta.
• Com tudo isso, o sistema imunológico é afetado e comprometido. Daí ficarmos mais suscetíveis às doenças, vírus e bactérias.
Como você pode imaginar, todos estes efeitos são inofensivos a curto prazo. No entanto, quando uma pessoa vive num estado de emergência, a maior parte do tempo – como num estado de estresse constante, de ansiedade constante – isso pode resultar em danos significativos para o corpo.
Daí surgem as doenças psicossomáticas e as somatizações.
Qual a diferença entre doenças psicossomáticas e somatizações?
O processo de somatização ocorre quando existe um ou mais sintomas físicos, mas que não são justificados por uma causa física. Por exemplo, quadros de dor crônica cuja origem não é encontrada pelo ortopedista ou neurologista.
São dores que não têm causa aparente, que aparecem sem que tenha havido alguma razão conhecida e que não se curam nem com remédios, pois a causa não é física, mas sim emocional, ou seja, provocada pela nossa mente.
Por causa da falta de informação, a somatização pode gerar preconceito e a ideia de que a doença é “coisa da cabeça” do paciente, como se não existisse um problema físico ou como se a pessoa pudesse controlá-lo se quisesse.
Já as doenças psicossomáticas podem ser detectadas por exames laboratoriais. Ou seja, existe uma causa física para os sintomas observados, porém, a doença tem origem na mente.
Aparece quando a pessoa se encontra em um impasse de compreensão para dar significado ao que vive e expressá-lo por meio de pensamentos e palavras.
O psiquismo apazigua sua ansiedade criando um sintoma, assim protege a pessoa de uma dor emocional que ela não está conseguindo pensar, nem organizar no seu aparato psíquico.
Entendemos que nos pacientes psicossomáticos, com achados clínicos ou não, ocorre uma tradução direta de uma angústia no corpo; é uma falha no processo de simbolização que se desenvolve nas fases mais arcaicas do desenvolvimento humano.
Algumas das doenças psicossomáticas mais comuns são:
• Gastroenterites (úlcera, gastrite, retocolite);
• Problemas respiratórios (asma, bronquite);
• Alterações cardiovasculares (pressão alta, taquicardia);
• Problemas dermatológicos (vitiligo, psoríase, dermatite, herpes, urticária, eczema);
• Enxaquecas e vertigens;
• Processos inflamatórios nas articulações (como artrite, artrose, tendinite, reumatismos).
Atualmente, tem-se falado muito na fibromialgia, que também tem sua origem no estado emocional.
Trata-se de uma doença bastante pesquisada que se caracteriza por uma coleção de sintomas físicos, principalmente pela presença de pontos dolorosos ao longo do corpo, sobre os quais ainda não se sabe as causas e nem a cura.
A dor é o que está escancarado nesta síndrome; é aquilo que podemos ver. É preciso, então, ultrapassar essa dor e ver o que está além dela, compreendendo qual o sofrimento que ela comunica.
Como você pode identificar
e como tratar:
Uma das maneiras de descobrir se você está sendo acometido por uma doença psicossomática é ficando atento a estes sinais do corpo e a duração deles:
• Falta de ar constante;
• Taquicardia;
• Tremores;
• Dores no estômago (enjoo, queimação ou gastrite nervosa);
• Dores de cabeça constantes;
• Sensação de nó no peito e na garganta.
Estes são alguns sinais de alerta que surgem e que permanecem por bastante tempo, até que começam a ser caracterizados como uma doença. Como, geralmente, muitas pessoas não conseguem associar o problema físico ao emocional de maneira imediata, é comum que se procure primeiro a ajuda de um médico, que irá diagnosticar e tratar os sintomas. Mas, se esses sintomas persistirem e não responderem bem aos tratamentos clínicos propostos, ele irá identificar que se trata de uma doença psicossomática ou de uma somatização e encaminhará o paciente para um tratamento psicoterápico paralelamente ao clínico, com o objetivo de tratar a causa do problema e amenizar ao máximo os seus sintomas.
No tratamento psicoterápico busca-se uma compreensão dos aspectos subjetivos/emocionais que possam estar presentes neste quadro, podendo, desta forma, integrar o corpo físico, mental e emocional.
Ajudamos o paciente a desenvolver a capacidade de entrar em contato com o sofrimento ao invés de transformá-lo em sintoma. De tal maneira que o sintoma desaparece quando a pessoa não necessita mais dele para expressar seu sofrimento, e é capaz de contê-lo em seu corpo e em sua mente sem recorrer a adoecer-se. Então o sofrimento pode ser representado e os sintomas podem ter fim.
Quanto mais a pessoa toma consciência de seus sentimentos e emoções e pode expressá-los, menor é a probabilidade desses sentimentos se transformarem em doença.
Portanto, fique atento às suas emoções, ao que você sente no dia a dia, nas suas relações e considere o que seu corpo está te dizendo com vários sinais que ele dá, por menores que sejam, para que eles não se tornem crônicos com o passar do tempo.
O corpo fala, precisamos apenas aprender a ouvir. Exercite esta escuta corporal! Sempre que um sintoma surgir, como aquela dor de cabeça persistente, ou uma dor na coluna, etc, tente traduzir o que ele pode estar lhe comunicando, quais os sentimentos que podem estar associados a ele.
Pare por uns minutos, respire profundamente, entre em contato com as suas sensações e com o que você está sentindo naquele momento... e se questione se tiveram situações que você viveu naquele(s) dia(s) que podem ter influenciado nesse sintoma, nessa dor... muitas vezes também pode ter sido apenas um pensamento, ou uma memória de algo difícil/traumático que você viveu, que desencadeou aquela sensação. E assim você vai conseguir identificar o que o corpo está dizendo.
Tente sempre fazer essa associação entre um sintoma que seu corpo está trazendo e um sentimento ou pensamento. A partir daí, será possível administrar melhor suas emoções e sentimentos e as chances disso se transformar em doença vão diminuir cada vez mais!
Enfim, cuide de você! Cuide de sua saúde física, mental e emocional; ou seja, do seu corpo, dos seus pensamentos e dos seus sentimentos. Desenvolva habilidades emocionais, estabeleça relações afetivas e sociais saudáveis, fale de seus sentimentos! Aliados ao tratamento médico e psicoterápico, adote hábitos de vida saudáveis, tais como alimentação, atividades físicas, principalmente aquelas que trabalham nessa integração mente/corpo, possibilitando maior consciência corporal e emocional. Além do mais, elas têm um grande poder de regular a liberação hormonal do nosso corpo, diminuindo aqueles picos dos hormônios do estresse, liberando outros, tais como endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina, os chamados hormônios do prazer ou da felicidade, que trazem de volta a estabilidade que fora perdida.