Foram 540 km percorridos durante nove dias de viagem. No caminho, muita terra, montanhas, subidas, abismos, ribanceiras, entre outros obstáculos, que foram vencidos com persistência e fé, além de um bom preparo físico.
A ideia de ir de Passos até Aparecida de bicicleta surgiu quando o médico Natael Malta e sua esposa Cristiane Gasparoto, ambos praticantes de mountain bike, decidiram fazer o Caminho da Fé, como forma de agradecer graças alcançadas em suas vidas. Logo, eles convidaram outros amigos, que também são apaixonados por bike, para formar um grupo e fazer a viagem.
O planejamento começou com seis meses de antecedência.
Luiz Gustavo Hermógenes Pereira, Natália Martins Perpétuo, Juscelino Silvério Garcia e Vagner Duarte aceitaram o desafio proposto por Natael e Cristiane, e assim estava formado o grupo que iria fazer o trajeto. O personal trainer Cláudio Augusto Dias, o Guto, foi convidado para acompanhar o grupo na viagem e organizar o cronograma de treinamentos, com o objetivo de aperfeiçoar a preparação física de todos para concluírem o percurso com menos dificuldade.
“Eu quis fazer um agradecimento por todas as conquistas em minha vida, e daí surgiu a ideia de fazer essa viagem até Aparecida de bicicleta, tanto eu quanto minha esposa somos apaixonados por bicicleta. Foi um desafio físico e religioso”, afirma Natael.
“Foi uma superação física, claro que espiritual também. Todos os dias eram incertos, nós não sabíamos o que ia acontecer lá na frente. A fé junto com o prazer de pedalar foi o que fez a gente chegar lá! Aprendi a ser mais flexível, o caminho é muito bonito, a gente vê que a vida é mais fácil do que você imagina. O caminho fez eu me tornar uma pessoa bem melhor, eu vi várias coisas na estrada que eu jamais esperava ver. Foi muito enriquecedor, por estar junto com pessoas maravilhosas. O grupo estava muito homogêneo, o trajeto que estava previsto para ser feito em 10 dias nós fizemos em nove. O caminho é muito bem sinalizado, com várias setas”, explica a artista plástica e mosaicista Cristiane Gasparoto, que pedala há seis anos.
“O convite foi feito pelo Natael em dezembro, e a preparação ocorreu de janeiro até junho. Nós fomos aumentando o volume de treinos de janeiro até junho. Os treinos foram em vários lugares da região, como no trevo de Ilicínea até o Carmo do Rio Claro, nós fomos à subida dos canteiros, ao mirante, nós usamos bastante a Serra da Canastra como treinamento, e isso fez com que o trajeto fosse realizado com um pouco mais de facilidade. Eu recomendo a todos que têm vontade de fazer algo parecido, que se preparem”, salienta Guto.
O personal trainer ressalta importância do carro de apoio, que não deixou faltar água e nem comida ao grupo durante a viagem. “Ao longo dos nove dias de viagem, o percurso mais curto foi de 45 km, e o mais longo foi de 92 km, tendo 11.000 metros de acesso acumulados. É necessário se programar física e mentalmente. O grupo estava muito unido e muito amigo, nós não tivemos pressa”, destaca Guto.
Para quem gosta de bike e pretende fazer passeios longos, o personal trainer dá algumas dicas importantes: “É necessário utilizar o equipamento de segurança, uma bicicleta com freio bom, com câmbio bom, as marchas e os freios têm que ser confiáveis. É necessário um capacete bom, uma luva boa, protetor solar, e não deixar de comer e tomar água durante todo o trajeto, pois é isso que vai fazer você chegar com saúde.”
O médico Luiz Gustavo Hermógenes falou sobre a experiência de fazer o Caminho da Fé: “É um caminho cheio de belezas naturais e com uma energia que evidencia a cada quilômetro a grandeza e a presença de Deus! O caminho exige preparo físico para que o mesmo não se torne uma muralha para o ciclista, ou o peregrino desista da caminhada. A ideia inicial do caminho partiu do meu amigo Natael e treinamos por seis meses com a orientação e o empenho do nosso educador e amigo Guto, que soube criar situações de treino semelhantes à que passamos pelo caminho.”
Para a empresária Natália Perpétuo, que pedala há 10 anos, e pratica corrida e musculação, “a experiência espiritual foi muito forte, pois esse foi o objetivo principal da minha peregrinação. As companhias foram fundamentais para que a experiência se tornasse tão enriquecedora, pois se não fossem pessoas com esse vínculo forte de amizade não teria sido algo tão profundo.”
O aposentado Juscelino Silvério Garcia, 57 anos, reside em Ribeirão Preto. Ele diz que quando recebeu o convite do sobrinho Natael achou que seria impossível, mas aceitou o desafio. “Eu pedalava em torno de 30 km aos finais de semana quando tinha alguma companhia. Como moro em Ribeirão, não tinha como treinar com os companheiros de Passos. Mas não desisti. Passei a pedalar sozinho, 40km, cerca de três vezes por semana, e nos últimos meses que antecederam a viagem, ia de Franca a Ribeirão, ou de Ribeirão a Franca, três vezes por mês. Não me sentia apto a pedalar mais de 500 km, mas não ia desistir sem tentar. Quando chegamos a Aparecida, no Santuário, achei que me sentiria feliz por ter cumprido a missão, mas já estava com saudade dos companheiros de viagem. Algumas coisas me surpreenderam: o tratamento que as pessoas dão aos peregrinos, principalmente o pessoal das pousadas, e a beleza das cidades e das montanhas que passamos. Agradeço aos meus companheiros de viagem pelo apoio e pelos momentos felizes que passamos juntos. Ótimas companhias. Essa peregrinação, para mim, teve como objetivo agradecer a Deus pela vida maravilhosa que ele me deu”.
O grupo está se preparando para outro desafio no ano que vem, quando irão percorrer todas as cidades ao entorno da Serra da Canastra de bicicleta. Existe também a ideia de fazer outros passeios desse tipo, inclusive fora do país.
“Ao fim de tudo, nós alcançamos o objetivo. Meta traçada, meta alcançada, com muita satisfação, e prontos para outra”, comemora Natael.
Sobre o Caminho da Fé
O Caminho da Fé é um trajeto de peregrinação brasileiro inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, tradicional rota de peregrinação da Espanha. Inaugurada em 2003, a rota brasileira foi criada por peregrinos em direção ao Santuário Nacional de Aparecida. Após vários anos sem muita visibilidade, o roteiro ganhou destaque nos últimos anos e, desde 2012, vem aumentando significativamente o número de peregrinos e caravanas que utilizam as rotas rumo à Cidade de Aparecida.