A terceira idade, também chamada de “a melhor idade”, pode ser uma fase de novas descobertas para as pessoas que chegam até ela, e não o fim da vida, como muitos encaram. Para que o idoso continue vivendo com qualidade e alegria é necessário buscar novas experiências e formas de interação, como forma de evitar a solidão.
A psicóloga Amanda Santos fala sobre os riscos que o isolamento pode causar aos idosos, e qual a responsabilidade da família nesse tipo de situação. “Esse abandono é um fator preocupante, até porque pesquisas apontam que os idosos solitários apresentam maior número de doenças, muitas dessas relacionadas ao emocional. Neste caso, é preciso que todas as pessoas próximas, principalmente da família, tenham consciência do problema que podem ocasionar ao abandoná-lo”, ressalta.
Segundo a psicóloga, muitos idosos têm dificuldade em assumir a idade que possuem e entender que o corpo já não tem o mesmo ânimo, muitas vezes fazendo com que se isolem.
“Esse comportamento vem da crença (pensamento) de que a velhice é uma coisa ruim, e que significa o fim da vida. O que não é verdade! Antigamente as pessoas mais velhas/idosas eram mais reconhecidas como sábias, cheias de experiências e histórias motivadoras, e de vivências boas. Hoje esse reconhecimento não é tão frequente em algumas sociedades. O idoso, muitas vezes, é visto como um fardo e até mesmo como inútil”, pondera.
De acordo com Amanda, é preciso trabalhar com esses idosos a ressignificação da crença de que o velho não tem seu valor. “Há muitos trabalhos que se pode fazer nesse sentido, inclusive demonstrar dentro de uma terapia em grupo ou individual, o valor do outro, mostrando para essas pessoas que estão na idade da recompensa e da sabedoria”, salienta.
A psicóloga explica que a idade da recompensa tem início aos 58 anos, e vai até por volta dos 72 anos. Depois o segundo ciclo é da recompensa premium. “Quando se está nessa idade e a pessoa acredita que fez coisas boas tanto para si quanto para os outros, ela se dá o valor e consegue ter saúde e muita sabedoria. Quando acredita no oposto, ela supõe que fez as escolhas erradas perante a vida e reage de forma negativa nesse período, influenciando negativamente em sua qualidade de vida”, destaca.
O que fazer depois da aposentadoria
A sensação de inutilidade após a conquista da aposentadoria é muito comum e acontece mais frequentemente entre os homens. Nesse caso, o que pode acontecer é o idoso pensar: “Pronto, agora estou só esperando a morte chegar”. De acordo com Amanda Santos é um erro pensar dessa forma.
“Sabe-se que a expectativa de vida hoje do brasileiro, segundo o IBGE, é de aproximadamente 73 anos para os homens e 80 anos para as mulheres. Então, como assim? Ficar esperando a morte chegar por 10, 20, 30 anos que lhe restam? Aqui é um momento então de quebrar essas crenças negativas sobre a terceira idade, reeducando o cérebro, para substituir as crenças e o sentimento de desvalor para o de auto valorização. Reconhecer que está na idade da sabedoria e que pode sim ajudar ou até mesmo pensar: “O que posso fazer para deixar esse mundo melhor?”
Se a sensação de ficar parado te incomoda, que tal fazer algumas atividades extras para preencher seu tempo?
Vou citar aqui algumas atividades:
- Conviver com outras pessoas, onde terá oportunidade de troca de experiências e autoconhecimento;
- Contato com a natureza;
- Atividade física, desde uma caminhada até uma musculação/pilates;
- Buscar atividades novas que nunca fez na vida, como tocar um instrumento musical, fazer meditacão, aula de dançou esporte, entre outros.
A psicóloga enfatiza que o contato com o outro é sempre muito favorável nesse sentido. Procure fazer atividades em grupo, as quais te tragam prazer e bem-estar. Talvez hoje você não consiga mais dançar forró, como dançava antigamente, mas que tal tentar uma nova dança ou um novo esporte?
Em Passos, Amanda cita o exemplo da Unabem (Universidade Aberta para a Maturidade), que é um programa social da Uemg (Universidade do Estado de Minas Gerais) voltado para a terceira idade. O objetivo principal deste projeto é oferecer oportunidades para que a pessoa desenvolva todas as suas possibilidades de convivência, de aprendizagem, de lazer e de envolvimento com as questões sociais e ambientais. E também oportunizar que faça resgates contínuos de memória, de saberes e sabores, aumente sua autoestima e das pessoas com as quais convive reelaborando continuamente o seu jeito de viver.
Sobre a depressão na terceira idade, Amanda diz que a mudança de padrão de vida e a sensação de inutilidade social são gatilhos tanto para o isolamento como também para a depressão. “Dentro da população idosa, a depressão encontra-se entre as doenças crônicas mais frequentes que aumentam a probabilidade de desencadear incapacidade funcional, trazendo uma piora nas relacções familiares como também na qualidade de vida. Estudos recentes identificam, entre as principais características associadas a depressão, variáveis demográficas, tais como idade avançada e ser do sexo feminino.”
O reconhecimento da depressão na terceira idade, segundo Amanda, demanda uma atenção maior, já que pode ser confundida com o processo de envelhecimento.
Infelizmente, hoje ainda há casos em que não se é percebido o transtorno depressião no idoso abrange fatores genéticos, acontecimentos estressantes, alterações neurobiológicas e deterioração cognitiva associada a idade.”
Relacionamentos e amizades
“No filme “Up-altas aventuras” conta-se a história de um senhor chamado Carl, que após ficar viúvo e perder o amor de sua vida, sofria o processo de solidão e amargura perante a vida. Durante o enredo do filme, mostra que sua vida se tornou melhor depois que conheceu um garotinho de 8 anos de idade, o qual viveram juntos grandes aventuras na história. Carl, não ganhou apenas um amigo, ele ganhou a vontade de viver novamente. Quis citar esse filme, para mostrar que os idosos, assim como os jovens, necessitam de amigos e parceiros para se sentirem bem, e para terem bons motivos para viver a vida sem pensar que está no fim”, destaca Amanda.
No caso de relacionamento amoroso, aqueles que ainda são casados e possuem seu parceiro (a), a psicóloga recomenda que aproveitem a idade para curtirem o casamento. “Relembrar os momentos de namoro trarão boas lembranças e hoje, com a experiência que possuem, saberão agradar um ao outro da melhor forma possível, sair juntos para passear, viajar e até mesmo ir a lugares onde nunca foram”, salienta.
De acordo com a psicóloga, o mesmo que acontece com o jovem apaixonado, pode acontecer com o idoso, que é ter desejo de se cuidar (vaidade), ter alegria ao compartilhar momentos e histórias juntos, como também querer o bem tanto para si como para o parceiro (a). “Semelhante ao filme, “Up-altas aventuras”, os idosos precisam se aventurar na vida, ter contato com outras pessoas sejam elas amigos ou parceiros amorosos. Sua saúde física e mental agradecem.”
A psicóloga diz que para os viúvos e viúvas da terceira idade, um novo relacionamento pode trazer muitos benefícios nessa fase da vida. “Apesar de haver um medo ou até preconceito (dos familiares, da sociedade ou mesmo do próprio idoso). Contudo, é preciso ressaltar que deve haver cautela no início de qualquer relação, necessitando conhecer bem o amigo ou pretendente, avaliar as afinidades, as diferenças e vivenciar cada etapa em seu tempo certo. Uma boa relação é baseada no respeito mútuo, fique atento a isso”, finaliza.
Renato Rodrigues Delfraro