Admirador e amigo de Turíbio Santos, um dos grandes nomes mundiais do violão erudito, o passense Celso Faria chega a 26 anos de uma rica carreira como violonista. Radicado em Belo Horizonte desde sua infância, o músico que já passou de 300 apresentações no Brasil e Europa, participou de diversas gravações fonográficas e coleciona prêmios por suas performances. Para este ano, entre seus projetos está a finalização de mais uma produção, um CD que promete boas surpresas para os conterrâneos.
Embora seja um frequentador dos melhores palcos de Minas Gerais e do Brasil, com grandes orquestras e grandes músicos, Celso Farianunca esquece de prestigiar sua terra natal em suas turnês, como ocorreu em 2019, quando ele lançou no Santuário Santo Aníbal o CD “Recital Mineiro”, em que ele trouxe obras inéditas do maestro mineiro Carlos Alberto Pinto Fonseca (1933-2006) e do compositor belga Arthur Bosmans (1908-1991), naturalizado brasileiro com profícua carreira em Minas Gerais.
No momento, o violonista colhe os frutos da turnê encerrada em dezembro, em que ele fez a divulgação do “Recital Mineiro”,com 23 apresentações no estado.“É um CD que está tendo uma aceitação muito boa, porque é um repertório excepcional, no qual eu fiz a primeira gravação mundial dessas obras” observa.
ESCOLA DE MÚSICA
A carreira musical de Celso Faria começou com seu ingresso no Curso de Formação Musical da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde ele aprendeu com o mestre dos mestres do violão clássico José Lucena Vaz e com Fernando Araújo, outro grande nome do instrumento no Brasil e que tornou seu parceiro em gravações e apresentações.
O ano é significativo também porque foi em 28 de janeiro de 1994, no anfiteatro da Casa da Cultura, que Celso, então com 14 anos de idade,fez seu primeiro recital de violão.A apresentação foi a convite do Departamento de Educação e Cultura, na época chefiado pela educadora OrlandaAntonia Nascimento Andrade. “Nessa noite, eu me lembro bem, houve dois eventos: o lançamento do livro “Exercício de viver”, da Hilda Mendonça, e uma apresentação que eu fiz no anfiteatro da Casa da Cultura”, recorda.
Antes desse debut no palco e nos estudos formais, Celso Faria já praticava violão clássico, como autodidata, desde os dez anos de idade. Ele conta que até então tocava música popular e que seu interesse pela música erudita foi despertado pelo violão solo do inglês Julian Bream a partir da audição de uma fita K7 em que ele interpretava “Schottish-Choro”, de Heitor Villa-Lobos.
“Quando eu ouvi essa gravação, foi marcante, porque ali eu via que o instrumentista, no caso o Julian Bream, conseguia solar de maneira mágica. Aí eu pensei comigo, eu tenho que aprender partitura, eu tenho que aprender isso aí, para decifrar essa música que me soou tão impactante naquele momento”, conta, acrescentando que essa experiência o levou a buscar métodos de teoria musical e de violão, a frequentar concertos de violão, a conhecer outras obras. “Conhecer os violonistas e começar a estudar o instrumento foi um caminho natural”, acrescentou.
Na UFMG, Celso Faria estudou na classe do professor José Lucena Vaz e se formou bacharel sob a orientação de Fernando Araújo, mas ele não parou na graduação e prosseguiu seus estudos, especializando-se em “Música Brasileira - Práticas Interpretativas” pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), também em Belo Horizonte. Mais tarde, o violonista passense, com uma pesquisa e dissertação sobre Turíbio Santos, obteve o título de “Mestre em Performance Musical” pela UFMG.
Celso Faria também foi aluno de Beto Davezac na Fundação de Educação Artística, na capital mineira, e de Norton Morozowicz, com quem estudou música de câmara na Universidade Estadual do Rio De Janeiro (UERJ).
ORQUESTRA
Entre recitais, concertos, palestras ministradas e workshops realizados, Celso Faria tornou-se escritor oficial da OrquestraFilarmônica de Minas Gerais em obras para violão. Isso significa que ele é encarregado de escrever sobre aquela música no programa impresso do concerto, destacando curiosidades sobre a composição, as circunstâncias em que foi escrita, a estreia e informações gerais.
Como solista orquestral, já são mais de 20 apresentações. Destaca-se também sua participação na Orquestra Sinfônica de Minas Geraisnas três óperas de que participou:“Falstaff” (de Giuseppe Verdi), “A viúva alegre” (Franz Lehár) e “PorgyandBess” (George Gershwin).
Celso Faria também integrou inúmeras formações camerísticas– que são apresentações em conjunto com outros músicos e instrumentos –e fez uma quantidade enorme de recitais solo.Por sua habilidade ao violão, já passa de 140 o número de obras que lhe foram dedicadas, encomendadas, transcritas ou arranjadas. O violonista também já publicou inúmeras partituras, que são transcrições suas para violão de obras feitas originalmente para outros instrumentos.
Seu trabalho ao violão lhe rendeu vários prêmios Brasil afora e convites para participar de programas de rádio e TV, como as gravações para a Rede Globo sobre os “Manuscritos de Buenos Aires”, em duo com Fernando Araújo, com obras inéditas do pianista, regente e compositor brasileiro Francisco Mignone (1897-1986), “O cancioneiro de Marília de Dirceu” (vários autores), com o tenor Wellington Vilaça, e o especial “José Lucena Vaz – 75 anos”, em homenagem ao seu mestre. Esses programas foram exibidos também pela Globo Internacional, levando o violão erudito brasileiro de Celso Faria para o mundo todo.
O músico também destaca sua atuação como solista frente à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais no “Concerto de Aranjuez”, para violão e orquestra, do espanhol Joaquín Rodrigo (1901-1999), que reuniu milhares de pessoas no Parque Municipal de Belo Horizonte.
Além de Turíbio Santos, Fernando Araújo e José Lucena Vaz, Celso Faria admira outros violonistas clássicos brasileiros: o Duo Abreu (irmãos Sérgio e Eduardo Abreu), Duo Assad (Sérgio e Odair Assad) e Fábio Zanon.
A MÚSICA CLÁSSICA HOJE
Falando sobre o panorama atual do violão e música clássica, Celso Faria ressalta a liberdade com que as orquestras e os solistas passaram a ter para definir seu repertório. Nos tempos de Mozart e Beethoven, segundo ele, as músicas eram criadas para determinadas ocasiões, como uma missa, ou uma festividade, por exemplo. Hoje, ao contrário, criam-se ocasiões, como um concerto, para que a música clássica seja ouvida.
“Eu também acho que tanto a música de violão quanto a música sinfônica, ou para outros instrumentos, se a ampara no quesito da pluralidade, em que executa-se, pela primeira vez na história das artes, músicas de diferentes épocas nos dias atuais”, explica.