A convulsão é uma maneira de o cérebro reagir à presença de uma lesão ou disfunção em sua estrutura, ou a certas anormalidades do nosso organismo. É uma crise de ocorrência repentina, iniciada por alterações nos impulsos eletroquímicos nos neurônios, que são as células cerebrais.
O neurologista Dr. Pedro Savino explica que a convulsão é um sintoma tanto de lesões estruturais ou disfunções cerebrais, quanto de alterações metabólicas e funcionais do organismo. “Qualquer lesão que afete o cérebro pode causar convulsões, como por exemplo, infecções, tumores, traumatismos, acidente vascular cerebral (AVC), etc. Também alterações metabólicas do organismo, excesso ou diminuição de concentração de glicose, ou de sódio, ou excesso de ureia no sangue, assim como certas intoxicações por envenenamento, podem afetar o funcionamento cerebral e causar convulsões”, destaca.
As crises convulsivas, segundo o Dr. Pedro Savino, são classificadas em dois grandes grupos: as generalizadas e as focais. “As generalizadas são decorrentes de descargas de impulsos eletroquímicos que já de início, afetam todo o cérebro simultaneamente, e o paciente perde a consciência seguido de outras manifestações, enquanto as crises focais iniciam-se por descargas em uma determinada localização do cérebro. Na crise focal, o paciente pode, por exemplo, repuxar um canto da boca ou alguma extremidade de um membro, sendo que a seguir a crise pode ou não generalizar-se”.
O neurologista afirma que uma vez cessada a causa da convulsão, esta pode não mais repetir-se. “Porém, há pessoas que apresentam convulsões que se repetem no decorrer da sua vida (mesmo sem causa aparente), neste caso configurando-se um quadro de epilepsia”.
TRATAMENTO
De acordo com Dr. Pedro Savino, o primeiro passo para o tratamento de pacientes que sofrem crises convulsivas é descobrir a causa das crises. Isso se dá através da realização de exames apropriados, como exames de imagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio), exame de eletroencefalograma e exames de laboratório.
“Se o paciente estiver com uma lesão cerebral como um tumor, ou um coágulo, provavelmente vai precisar passar por uma neurocirurgia para a retirada da lesão, quando for indicado. Se não for encontrada uma lesão ou alteração que justifique a ocorrência da convulsão, ou se o paciente apresentar repetição das convulsões durante sua vida terá de ser tratado com medicamentos anticonvulsivantes (antiepilépticos) de uso contínuo, por tempo variável”.
SOBRE OS PRIMEIROS SOCORROS QUE DEVEM SER PRESTADOS AO PACIENTE NO MOMENTO DA CONVULSÃO, O MÉDICO EXPLICA QUAIS PROCEDIMENTOS DEVEM SER FEITOS:
“A convulsão é uma ocorrência comum, pode acontecer em qualquer ambiente, aí as pessoas que estão por perto podem assustarse sem saber o que fazer. A primeira coisa a fazer (mantendo a calma) é proteger o paciente convulsivo para ele não se ferir. O paciente deve ser deitado de lado para evitar aspirar secreções ou vômitos, ser retirado de sua boca algum possível material que esteja obstruindo sua respiração, ser protegido de ferir a pele do corpo ou cabeça frente a superfícies duras durante as contrações musculares, ser colocado um pedaço enrolado de pano limpo ou lenço entre seus dentes para evitar mordedura da língua (com cuidado, pois durante a crise o paciente frequentemente cerra os dentes com força, podendo morder e ferir a mão do ajudante). Após os primeiros socorros é necessário acionar o SAMU para conduzir a pessoa ao hospital.
Contudo, quando o paciente encontra-se no meio de seus familiares, já sabidamente epiléptico antigo, que tenha sofrido uma convulsão fraca, de curta duração, e que tenha já se restabelecido, não há necessidade de ser transferido ao hospital, em virtude de ser já uma ocorrência de rotina neste paciente”, explica.
O Dr. Pedro Savino relata que a convulsão em si geralmente não deixa sequelas nem leva à morte, a não ser que a crise se torne muito prolongada, ou que venha acompanhada de outras complicações, como aspiração de vômitos ou restos alimentares, ou se a crise esteja acompanhada de outras manifestações doentias, como possível processo infeccioso ou tóxico. “O que pode levar à morte são as circunstâncias que cercam a ocorrência da convulsão: se a pessoa sofrer uma convulsão enquanto estiver nadando, dirigindo um veículo, atravessando uma avenida movimentada de veículos, ou se sofrer uma queda violenta, isso pode ocasionar a morte. A convulsão em si, raramente leva à morte”, salienta.
O neurologista reforça a necessidade de se saber a causa da convulsão para se realizar o tratamento adequado. “Nem sempre o paciente que apresenta convulsão sofre de epilepsia. Se for descoberta a causa das convulsões, e se esta causa puder ser eliminada, o paciente tem grande chance de não se tornar epiléptico”, finaliza.
Renato Rodrigues Delfraro