A chamada Medicina Culinária vem ganhando uma rápida expansão, como uma nova área da medicina, baseada em evidências científicas, que une a arte de cozinhar com a ciência da medicina. Os americanos consideram a Medicina Culinária como uma prática que pode ajudar os pacientes a usar a nutrição e promover hábitos culinários saudáveis, o que ajuda a melhorar e manter a sua vida saudável. Mas o que foi mais inovador para nós, foi entender que a relação com a comida é um hábito que requer habilidades para se desenvolver.
De nada adianta nós médicos falarmos para o paciente: “coma saudável, corte industrializados para que assim você evite no futuro ficar diabético ou hipertenso.” Isso simplesmente não funciona na prática, e dificilmente os pacientes conseguem aderir a essas recomendações a longo prazo. O paciente não muda por medo e sim por paixão, e é nossa missão despertar no paciente a motivação intrínseca para a mudança, diz Dra. Tassiane Alvarenga.
Após fazer o curso de Medicina do Estilo de Vida (Lifestyle Medicine) e gerenciamento do stress, sono e qualidade de vida pela Harvard Medical School - “Tools for Promoting Healthy Change”, eu e minha colega endocrinologista Paula Pires notamos uma tendência ocorrendo por lá que nos chamou a atenção: a da educação culinária para os profissionais da saúde, principalmente para o médico. A ideia principal é que o médico aprendendo a cozinhar, além de cuidar da sua própria saúde, pode auxiliar melhor os seus pacientes. E isso pode ser o começo da mudança de vida de ambos.
O Brasil tem cerca de 18 milhões de pessoas obesas. Somando o total de indivíduos acima do peso, o montante chega a 70 milhões, o dobro de 30 anos atrás.
Estudos descrevem que o comportamento do paciente é muito semelhante ao comportamento do seu médico. Por exemplo, se o médico se vacina, se exercita, usa protetor solar ou faz colonoscopia preventiva, provavelmente o paciente deste médico seguirá o seu exemplo, e adotará estes hábitos saudáveis também, como um espelho. Tanto que o comportamento saudável do médico foi o fator preditor positivo mais consistente de aconselhamento para os pacientes destes mesmos comportamentos saudáveis, ou seja, se o médico tem o hábito de fazer algo saudável, ele consegue inspirar e convencer melhor o seu paciente a fazer também.
Falar de alimentação saudável para nós endocrinologistas, e falo isso para os meus pacientes todos os dias, é rotineiro. Sabemos que o alimento natural e caseiro, nutre, pode curar doenças e diminuir mortes, porém, ao longo da nossa prática médica, fomos percebendo que existem inúmeras barreiras entre alguém com fome e a sua próxima refeição nutritiva e saudável.
O mais interessante neste curso da escola de Medicina de Harvard, foi aprender que existem técnicas comprovadas pela literatura científica para transpormos os principais obstáculos e barreiras do paciente para se cozinhar comidas saudáveis em casa (como falta de confiança, habilidade e tempo). Os americanos consideram a Medicina Culinária como uma prática para ajudar pacientes a usar a nutrição e hábitos culinários saudáveis para melhorar e manter a sua vida saudável. Mas o que foi mais inovador para nós, foi entender que a relação com a comida é um hábito que requer habilidades para se desenvolver.
Se você quer que seu paciente fique aderente à uma dieta saudável, você precisa oferecer meios nos quais ele consiga se relacionar e preparar melhor a sua comida, como ferramentas culinárias básicas e soluções efetivas para ele implementar na hora de organizar e preparar uma refeição.
Cozinhar serviria como fonte de estudos, uma rica experiência para novos aprendizados, como uma forma de transformar algo tão complexo, como a alimentação, em algo mais simples. E para os nossos pacientes seria uma oportunidade de colocar em prática técnicas de entrevista motivacional, técnicas de coach em saúde, de psicologia positiva para ensiná-los a mudar hábitos em geral, na cozinha e fora dela. E percebemos que no Brasil ninguém estava falando dessa grande tendência de cozinha-escolas, para ensinar os estudantes de medicina e médicos a cozinharem.
Um dos maiores propósitos dos médicos na cozinha para nós era o valorizar toda a área da nutrição, e trabalhar junto com os profissionais mais habilitados para essa orientação, que são nutricionistas, chefs e coaches em culinária.
Para isso, outros encontros maravilhosos aconteceram, o Dr. Daniel Martinez, psiquiatra pela Universidade de São Paulo (USP), estudioso do tema felicidade e formado em Gestão de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas, topou nos ajudar com o projeto. A Ghina Machado, psicóloga, com vasto currículo em entrevista motivacional, coach em saúde e bem-estar e entusiasta em fotografia, se transformou na fotógrafa dos cursos e nos ajudou bastante na divulgação do projeto. Nossa equipe também conta com nutricionistas e chefs de cozinha representados por Tutu Galvão, Bianca Naves e Juliana Watanabe, além do gestor Marcus Vinícius Menezes Lemos.
Com a equipe formada, fizemos o curso piloto com uma turma de 10 médicos, em março de 2018, todos de especialidades variadas e formados pelas melhores Universidades do país. E foi um sucesso! Muitos desses médicos escreveram capítulos e depoimentos nesse livro! Hoje, nos sentimos felizes e realizados, já demos vários cursos, já inspiramos vários médicos, já demos várias palestras e começamos a plantar a semente da medicina culinária dentro das universidades.
Lançamento
MÉDICOS NA COZINHA
A noite de 25 de abril de 2019, foi marcada pelo evento de lançamento do livro Médicos na Cozinha, na Livraria da Vila, em São Paulo. O lançamento contou com a participação de mais de 300 convidados, e os autores todos presentes celebraram esse momento com seus colegas de profissão, amigos, familiares e personalidades como Mariana Ximenes e a apresentadora Daiana Garbim, autografando centenas de exemplares, esgotando o estoque da Livraria da Vila nessa noite. Médicos na Cozinha é o primeiro livro brasileiro sobre Medicina do Estilo de Vida. Escrito por médicos e profissionais da saúde que defendem que o médico precisa adotar um estilo de vida saudável, baseado nos pilares medicina do estilo de vida, no autocuidado e na prevenção de doenças e na alimentação saudável, incentivando que o médico pode e deve cuidar de sua própria saúde, preparar sua própria alimentação e, desse modo, influenciar seus pacientes a adotarem hábitos para uma melhor qualidade de vida.