Quando um casal ávido por um filho não se realizou mesmo depois de uma vida sexual ativa, sentimentos como impotência, angústias, frustração, infelicidade são comuns aos parceiros.
Mas é muito peculiar a forma como o homem lida com tais sentimentos. De modo geral, é notável a dificuldade do mesmo em abordar o que está sentindo e pensando, o que pode distanciá-lo da resolução dos problemas.
No caso específico da infertilidade, fantasias quanto à virilidade são comuns e a associação que se pode fazer em relação à infertilidade e perda da masculinidade pode ocasionar grande sofrimento psíquico.
O não cumprimento do “dever procriativo”, que ainda pode fazer parte do imaginário de alguns casais, provoca um turbilhão emocional.
Para o homem, numa sociedade como a nossa, que impõe a masculinidade acima de tudo, é difícil se ver diante de um diagnóstico de “falha reprodutiva”, quando se confunde impotência com infertilidade. Muitos dos sentimentos como ansiedades e medos são fruto de fantasias e por isso nascem daquilo que não se sabe, que apenas se supõe.
A resposta a estes sentimentos que carrega pode ser principalmente o isolamento social ou muitas vezes da própria companheira, o distanciando de um tratamento adequado.
Não falar é, antes de mais nada, perder a oportunidade de ter dúvidas esclarecidas. Ter acesso à informação e elaboração de respostas aos medos, às fantasias, às ansiedades e às angústias, possibilita a compreensão do diagnóstico, tratamento e principalmente do conflito.
É certo que só a informação pode não resolver a vivência do sofrimento, pois é preciso saber o que tais dúvidas significam para aquela pessoa em particular. Vemos que muitas vezes o médico esclarece para o paciente determinado diagnóstico ou tratamento, mas a sua compreensão persiste equivocada.
É preciso dar espaço ao homem que pode querer dizer de sua dor, mas muitas vezes tem maior dificuldade de se expressar, como nos versos do poeta Gilberto Gil, a ideia de que:
“Ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter, ainda não é
compreendida por todos como ilusão.”