Cássio é natural de Passos e tem 35 anos. Ele viveu até os 18 anos no Bairro São Benedito com os pais e o irmão. Em Passos, ele começou a trabalhar com 11 anos de idade na Sociedade de Assistência Pró-Menor (SAMP), como guarda mirim. Dentro da SAMP prestou trabalhos para a Santa Casa de Misericórdia por alguns meses até completar 14 anos.
Cássio viveu no Rio de 1998 a 2008 e passou por várias experiências, tanto profissionais como pessoais, tendo momentos positivos e negativos. No Reveillon de 2007 ele recebeu os amigos passenses para as festas de fim de ano, a modelo Shaila Gonzaga, que hoje vive em Nova York, e Wesley Gonzaga das Botinas Bela Vista.
Ele diz ter chegado a Paris num sábado, e logo ao chegar à casa de sua tia, sem nada pedir, sem ao menos imaginar como seria reiniciar sua vida, buscar trabalho ou estudo, ela lhe disse: “Já tenho um trabalho para você e você inicia na segunda. Não tive tempo nem de me adaptar ao fuso horário e já me via trabalhando na segunda, sem nem ao menos falar francês. Era para trabalhar com portugueses, então ajudou bastante!”
No período entre junho de 2008 e novembro de 2009, graças a um amigo francês ele teve uma proposta de trabalho, e foi quando sua vida começou a mudar para melhor. “Graças a esse amigo, eu tive a sorte de começar a trabalhar como Mordomo para o Estilista Kenzo Takada, criador da marca mundialmente conhecida KENZO, mais conhecida no Brasil, pelo perfume KENZO FLOWER. Já trabalho com ele há seis anos e com ele pude aprender muitas coisas.”
Matar a vontade de certas comidas não é algo fácil por existir poucos restaurantes brasileiros. Existe a possibilidade de se preparar em casa, mas, sempre fica a dificuldade de encontrar alguns produtos necessários para o tal prato que você pode ter vontade de preparar. Ele diz que na grande Paris não se encontra muitos supermercados ou lojas com produtos brasileiros, e às vezes é necessário sair da região parisiense para encontrar produtos e/ou restaurantes brasileiros. “Por serem caros, os proprietários preferem abrir em cidades próximas, onde é mais barato o aluguel e o custo de vida, para oferecer bom preço. Encontram-se mais lojas portuguesas, onde podemos às vezes, encontrar produtos brasileiros. Eu sempre faço pão de queijo! Um bom mineiro não pode ficar sem pão de queijo! Consegui encontrar um local onde sempre encontro o meu polvilho”, conta.
“Vale lembrar, que para morar no exterior, se você quer viver tranquilo e com os seus direitos, o melhor é vir com um visto e algo já em mente ou encaminhado. Porque para viver ilegal, hoje em dia, não é fácil. Encontrar trabalho não é tão fácil, ainda mais se você não fala francês. Eu aconselho a se planejar! Estudar francês, ou outro idioma, se tiver planos de ficar e se quiser estudar aqui, que se programe para ao menos vir com um visto de estudante, poder estudar e trabalhar, porque o visto de estudante te dá o direito a trabalho. Mas não aconselho a vir sem visto para viver ilegal! É possível! Mas, não é a melhor opção. E falar francês é fundamental. Prepare o visto, moradia, língua, trabalho! Tudo isso é necessário para sua sobrevivência no exterior, seja na França ou em qualquer outro país”, finaliza.
Sobre os atentados terroristas que a cidade sofreu no mês de novembro, ele diz que na noite do ocorrido, estava em um restaurante jantando com uma amiga, de passagem em Paris nessa noite, que se conectou no Facebook e então ficaram sabendo que tinha começado os atentados.
“Ali mesmo no restaurante onde eu estava, mesmo sendo a 6 km do local dos atentados, porque eu moro no Rive Gauche e os atentados foram no Rive Droite, sentíamos já a tensão na cidade. Um amigo que estava próximo do local em um restaurante disse que eles fecharam tudo e que ele não podia nem ir embora.
Consegui sair do restaurante por volta da 1h da manhã. Eu tinha uma festa de aniversário de uma amiga e não pude ir, porque não havia mais táxis nas ruas. O governo pediu para todos ficarem em casa, não saírem e os poucos táxis que estavam nas ruas estavam indo para próximo do local dos atentados para poder levar as pessoas gratuitamente para suas casas. Achei esse ato muito bonito da parte deles! Ali eles esqueceram o egoísmo que existe em cada um e pensaram no próximo. A cidade se mobilizou para ajudar as pessoas! Foi emocionante ver isso, mesmo que pela televisão. Eu fiquei em casa, assistindo as notícias e falando com meus familiares em Passos para acalmá-los nessa noite”, explica.
Cássio conta que no sábado a cidade estava em luto e ele não saiu de casa. O presidente francês pediu que o povo ficasse em casa, por segurança. “Lembro que ao olhar pela minha janela, percebia Paris triste. As lojas fechadas, tudo fechado! Sábado e domingo o meu bairro parecia uma cidade fantasma. Aos poucos fomos nos readaptando, mesmo percebendo que os parisienses estavam com medo, tensos e vigilantes. A vigilância e a segurança foram aumentadas nas cidades e nas lojas. Hoje ainda, em várias lojas e locais públicos, você é revistado antes de entrar. Mas, eu senti mais forte isso, uma semana depois do atentado. Me lembro de ter ido ao cinema no centro de Paris, a sala de cinema fica no mesmo local onde tem uma Estação Central de Trens e Metrôs e em pleno horário de pico, às 19h, eu cheguei e não tinha ninguém. Estava fácil! Ali eu percebi que ainda estava tudo estranho, que as pessoas ainda não se sentiam à vontade de pegar o transporte público e que evitavam estar em locais de grande concentração de pessoas. Me senti mal de estar ali! Não com medo, mas apreensivo. Esses atentados, com certeza, prejudicaram muito Paris. Comércio e estabelecimentos de turismo perderam muito com o ocorrido.”
De acordo com o brasileiro, a Europa tem traçado uma busca apreensiva contra os possíveis terroristas e atacado os países árabes, como tem sido mostrado na imprensa. “Às vezes me pergunto se eles não estão começando uma guerra. Não é a primeira vez que houve um atentado. O atentado ao jornal Charlie Hebdo, no começo do ano, mobilizou Paris e também foi chocante! Na verdade acho que tudo começou ali, depois a guerra na Líbia. Aparentemente esse atentado já havia sido informado. Paris está sempre em alerta. Nesse mesmo dia 13 de Novembro minha amiga que tinha chegado a Paris estava pela Gare de Lyon e eles haviam evacuado a estação por um possível atentado a bomba. À noite, vem o atentado em vários pontos de Paris. Então, penso que o governo já estava ciente de um possível atentado, mas o mais difícil era saber onde. Como foi esse último, os terroristas atacaram vários pontos diferentes, mesmo que dentro da mesma região. Mas o resgate, a polícia e a ajuda não poderiam estar presentes em todos os lugares ao mesmo tempo. Depois desses atentados, foram contratados mais policiais, para que seja aumentada a segurança na cidade e creio que o governo tem se preparado. Espero que isso não se torne uma guerra”, revela o brasileiro.
Renato Rodrigues Delfraro