Depois de 30 anos como empresário de turismo em Passos, em dezembro de 2013 Hebert Mendonça encerrou o ciclo na agência criada por seu pai, José Gonçalves de Mendonça, e passou a se dedicar a outras atividades. Acostumado a levar clientes para vários países, em roteiros tradicionais, Hebert adotou para si mesmo o chamado turismo alternativo, que consiste em atrações que não costumam fazer parte dos pacotes das agências de viagem.
Junto com sua mulher, Andreína Mendonça, Hebert criou um roteiro bem pessoal para seu mais recente passeio pelo exterior, feito em agosto e setembro do ano passado. Na lista, as cidades de Lafayette, no estado da Lousiana, Washington e interior do estado da Virginia, nos Estados Unidos, e Vancouver e Nanaimo, no Canadá.
Hebert Mendonça foi intercambiário estudantil em 1975, mais tarde como membro do Rotary Club de Passos atuou como oficial de intercâmbio por vários anos, o que o possibilitou conviver com pessoas de diferentes países, entre os quais os Estados Unidos da América.Foi também na casa de alguns desses intercambiários que o casal se hospedou durante os passeios.
“Depois de fechar o ciclo da agência, eu quis fazer um turismo diferente daquele a que eu estava acostumado, como conhecer o Museu do Louvre, a Torre Eiffel e outras atrações tradicionais. Eu queria me misturar com os próprios moradores, conhecer os seus costumes, o seu modo de conversar, as comidas, o dia a dia deles”, explica.
LAFAYETTE - O casal chegou ao aeroporto de Houston, estado do Texas, dois dias antes do furacão Harvey, que causou mortes e destruição, e de lá seguiu, em outro voo, para Lafayette, uma cidade com uma população pouco maior que Passos no interior da Louisiana, distante 349 quilômetros de Houston, empercurso rodoviário.
Hebert e Andreína se hospedaram na casa da brasileira Ana Paula e seu marido, Steve Lewis, que haviam conhecido dois anos antes num passeio pela Serra da Canastra. Lafayette é uma cidade habitada por descendentes de imigrantes franceses-canadenses, que colonizaram essa região no século 18 e formaram uma cultura bem incomum em comparação com o restante dos Estados Unidos. É o povo Cajun, um tipo de caipira bem típico com seu linguajar, comida, comportamento, música e outras características culturais bem marcantes.
Entre rodadas de pôquer por diversão, alguns locais e passeios de barco pelo pântano, intrigante e belo com suas árvores centenárias e vegetação que forma um tapete verde sobre a água, os dois passenses saboreavam a comida cotidiana dos Cajuns e o jeito de se comportar e conversar dessas pessoas.
“O Steve nos orientou sobre os passeios, o que valia a pena ou não, Ana Paula prontamente nos conduzia sempre que lhe era possível. O passeio pelo pântano foi fantástico! Eu fiquei fascinado com aquilo”, disse Hebert, mencionando o piloto do barco, um bem simpático e acolhedor Cajun baixinho que tem o rosto marcado por uma má formação congênita, mas não parece se importar com isso. “Pra mim, foi um sonho chegar ali”, acrescentou.
De acordo com o casal passense, são impressionantes as formas de vida que habitam o pântano: “Jacarés, garças, uma infinidade de pássaros e árvores com trepadeiras. Foi uma hora e meia de passeio, que deve ser combinado com antecedência.”
A comida Cajun também surpreendeu os turistas de Passos pelo sabor e pela semelhança com a mineira,em alguns casos. “Foi a melhor comida que eu comi nos Estados Unidos. Torresmo, bola de carne...”, conta Hebert, referindo-se ao almoço num restaurante simples frequentado por trabalhadores locais e às refeições caseiras com Ana Paula e Steve.
Distantes 207 quilômetros do icônico berço do jazz, Hebert e Andreína não podiam deixar de visitar New Orleans, que ele conhecera 40 anos atrás. Então vibrante e contagiante pela alegria e musicalidade de seu povo, a cidade de hoje o decepcionou. “Eu não levaria um cliente lá, a não ser para uma visita rápida. A cidade está decadente, explora muito o turista, tem muita bebida e, parece que, muita droga”, lamenta, ressalta.
O caminho para New Orleans foi mais interessante para Hebert, que se encantou com os 36,7 quilômetros da ponte sobre o pântano Manchac, a quinta maior do mundo e que corta uma paisagem sem igual formada por esse bioma da Louisiana. “Tem muita gente que viaja, mas não aproveita a viagem em si”, comenta.
Hebert e Andreína gostaram também de conhecer a AveryIsland, uma pequena ilha próxima a Lafayette famosa por sediar a mais famosa fábrica de molho de pimenta do mundo,a McIlhennyCompany, do molho Tabasco, onde se produz toda a pimenta Tabasco consumida no mundo. Os visitantes têm diversos atrativos nessa localidade, além de conhecerem o modo de produção da empresa criada em 1868.
O tour é feito com um mapa das áreas da fábrica, onde vídeos e vários textos informam sobre a fabricação do molho, como é cultivada a semente da pimenta e até o engarrafamento do produto. O visitante ainda conhece a estufa de pimentas, os barris onde elas são conservadas por três anos em repouso antes de serem engarrafadase, na lojinha de lembranças, pode-se adquirir garrafinhas com uma ou mais variedades do molho e muitas preparações com pimenta, incluindo geleias e um sorvete delicioso, segundo o casal.
A AveryIsland também oferece uma outra atração, o JungleGardens, pertencente à fábrica, onde a natureza é preservada com suas plantas e animais. É um “santuário em que se veem diversos tipos de pássaros, veados, jacarés”, disse Hebert.
Embora não tenha causado maiores estragos na Louisiana em comparação ao Texas, o furacão Harvey provocou um grande alagamento no aeroporto de Houston, o que atrasou a partida dos passenses. Já era setembro e o próximo destino do casal era Vancouver, na costa oeste do Canadá, distante, em linha reta, a mais de três mil quilômetros do local em que estavam nos EUA.
VANCOUVER– Maior cidade da província da Colúmbia Britânica, no Canadá, em Vancouver mora mais uma família amiga de Hebert e Andreína Mendonça. Nessa cidade portuária de pouco mais de 630 mil habitantes residem Jessica e Andrew Hudson e suas filhas Bella e Bianca. Jessica foi intercambiária durante o período que Hebert era oficial de intercâmbio. “É um carinho que se mantém depois de anos”, diz.
Após receberem os amigos com um lanche, Jessica, Andrew e as meninas os levaram para o primeiro passeio em Vancouver, região norte da cidade, na montanha Grouse, uma das principais de Vancouver, com 1.271 metros de altitude, e onde se pode ver ursos, fazer trilhas no verão, deslizar de tirolesa sobre as árvores ou esquiar no inverno e conhecer as curiosas estátuas de madeira em forma de gente e bicho.
“Subimos de teleférico. Do alto tem-se uma vista maravilhosa de Vancouver e, atrás, uma paisagem natural com outra montanha e o lago (Capilano Lake). É um parque nacional onde têm os animais soltos, com diferentes espécies de ursos e trilhas para caminhadas”, conta Hebert, explicando, no entanto, que a espécie mais comum do local é o negro, que é menor e menos agressivo que o urso pardo e pode ser espantado com um spray anti-urso.
Andreína e Hebert também se encantaram com outra atração de Vancouver, a ponte suspensa sobre o lago Capilano (Capilano Suspension Bridge), a oeste da cidade. Construída em meio às árvores há quase 130 anos, a ponte suspensa Capilano tem 140 metros de comprimento e 70 metros acima do rio de mesmo nome eoferece vistas deslumbrantes das alturas sobre árvores, rio e abismo.
“O grande atrativo do Canadá são os parques, porque eles primam pela natureza”, admiraHebert, que se surpreendeu com a qualidade de vida dos canadenses, o quanto preservam a natureza e, diferente dos norte-americanos, preferemcomida saudável a fastfood: “Verduras, legumes, carnes com purê ou assadas e muita fruta”, observa.
De volta à cidade, os passenses visitaram outros locais: praia, vários parques, conheceram um cinema que mostra um pouco do Canadá em 360 graus, passearam por ruas históricas e pela região portuária. “Na cidade tem o que fazer dia e noite”, conta Hebert. À noite, por exemplo, um jantar com a sogra de Jessica num restaurante animado por jazz. Os pratos, costela de porco com barbecue, salmão e batata cozida.
Alguns dias depois, o casal tomou um ferry boat – embarcação bem comum naquele país abundante em lagos – e foi se encontrar com outro ex-estudante de intercâmbio, Sean, em Nanaimo, cidade distante 55 quilômetros a oeste de Vancouver. Separadas pelo Estreito de Geórgia, as duas cidades têm acesso por mar ou pelo ar. “É indescritível a beleza da paisagem entre o mar e a montanha”, recorda o passense.
E os turistas de Passos não deixaram escapar as oportunidades, foram de ferry e voltaram de hidroavião, outra opção apreciada por turistas, com Andreína sentindo o gostinho de ser “co-piloto” durante o trajeto.
WASHINGTON – Cerca de 20 dias após a chegada em Lafayette, Andreína e Hebert Mendonça iniciam sua última etapa da viagem. Agora eles estão em Lessburg, uma cidadezinha de aproximadamente 37 mil habitantes do interior do estado da Virgínia, no leste dos Estados Unidos.
Lessburg situa-se a 63 quilômetros de Washington, a capital dos Estados Unidos, onde casarões de 200 anos atrás, museus e monumentos históricos são alguns atrativos turísticos.
Como nas cidades visitadas anteriormente, na Virgínia, os passenses foram rever uma irmã de intercâmbio, Jean Bollar, e o marido Don,em Lessburg.
Guiados pelos anfitriões, Hebert e Andreína percorreram pequenas estradas do interior da Virgínia, apreciaram a paisagem natural, o casario antigo e vistas deslumbrantes de fazendas e vales. “É uma paisagem bem arborizada. Tem um restaurante self service num elevado onde você passa o domingo comendo, bebendo e conversando com uma vista linda do por do sol”, recorda o turista.“A variedade de cervejas artesanais agrada a diferentes paladares e são muito exóticas por sinal, pimenta, abóbora, cereja e a cerveja da casa”, acrescenta Hebert.
“O jantar no Restaurante Magnoliasmill foi pra lá de agradável. Instalado em um antigo celeiro de milho, conserva uma estrutura robusta, com muita madeira e ferragem onde degustamos um drink elaborado com fermentado de maçã, calda de figo e uísque. Simplesmente inesquecível!”, recorda Andreína.
Em Washington, são imperdíveis os museus e os monumentos históricos, como o Lincoln Memorial, que data de 1922, em homenagem a um dos mais populares presidentes norte-americanos, Abraham Lincoln, e os monumentos de homenagem a mortos e veteranos das guerras da Coreia e do Vietnam, emocionante.
Um cena que marcou os turistas de Passos é descrita por Andreína, mostrando o valor dos norte-americanos pelos mortos em catástrofes: “Estávamos ainda na Virgínia no dia 11 de setembro quando, ao passar na frente de algumas escolas, vimos bandeiras nacionais fincadas no solo do jardim, mas as mesmas não correspondiam ao número de vítimas daquela tragédia. Diante disso, me foi esclarecido que cada escola homenageava o número de mortos daquela cidade. E eram muitas bandeiras.”
Enio Modesto