José Leite de Carvalho - Historiador
1- O aspecto social em Passos é bastante complicado, a cidade ainda não está fundamentada socialmente, está mal estruturada. A classe dos trabalhadores, que é a maior, ainda é muito ligada à lavoura, a mão de obra é barata, estão fora do grande bolo rico da nação. A classe média é muito tímida em Passos, o que ajuda a população a ter uma renda melhor é quando se analisa a fonte pagadora, o Estado e o Poder Judiciário são os que pagam melhor. Não temos grandes indústrias, elas são tímidas, acanhadas, Passos é pobre nesse sentido. O investidor tem que olhar este lado, grandes empreendimentos às vezes desaparecem aqui, falta resposta de mercado. O nosso quadro econômico não é bem estruturado. No aspecto cultural, a nossa cultura foi bem oxigenada nas décadas passadas, depois esfriou. Houve uma retomada na cultura, de cinco anos para cá, através de algumas pessoas, para fazer que Passos volte a ser o que foi no passado.
2- Empresários devem investir na educação, que é a indústria do futuro. Passos está investindo em universidades, em novos cursos, e as perspectivas nesse campo são ótimas. Não se pode deixar de lado o turismo, tem que aproveitar melhor as nossas águas, represas, etc. Isso aí pode alavancar a cidade de Passos para o futuro.
3- A Foco começou de forma muito tímida e aos poucos a revista foi deslanchando, o que é bom, muito positivo. Eu tenho um processo de leitura dinâmica, olho as reportagens, as divisões, e observo o que ficou e não ficou. Tem que dar uma atenção especial para o lado social.
Cesar Tadeu Elias - Arquiteto e Jornalista
1- Aos 160 anos, infelizmente, não vejo Passos melhor nestes aspectos. Está melhor no desenvolvimento econômico, estacionada no cultural e não evoluiu como deveria no social. É muito fácil debitar qualquer responsabilidade na conta da política, mas, quando se quer fazer algo pela cidade se faz, independente de quem esteja no poder. Eu hoje vejo menos pessoas sendo gentil com a cidade e isso vale para, desde as mais altas patentes até para quem joga papel na rua ou suja as praças. A gente vê isso, por exemplo, na câmara de vereadores, onde os ocupantes são um retrato desse não desenvolvimento social, cultural e consequentemente político. É uma câmara de medíocres, como também foram medíocres recentes e anteriores legislaturas. Ninguém lá me representa. A cidade hoje é mais poderosa do que antes por conta da iniciativa privada, da diversidade, da prestação de serviços, do comércio e da agroindústria. Ela é poderosa por si só. Passos é um microcosmo do Brasil e, talvez, até esteja um pouquinho melhor que o restante do país. Ela vai se desenvolver sozinha, independente de poderes públicos. As pessoas envolvidas no processo de gestão da cidade como um todo, se tivessem mais conhecimento de causa, seriam mais eficientes. No aspecto cultural, o único fato relevante que eu vejo atualmente é o trabalho da Adriana Polez Rocha à frente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, o qual ela preside. O conselho tem feito um trabalho relevante no sentido de preservar um aspecto da nossa cultura que precisa ser preservada. No mais, o folclore, por exemplo, está acabando ou descaracterizado. Algumas iniciativas isoladas têm feito a diferença, como o Coral Pequenos Cantores, ou a Trupe Ventania/Adesc Cultural, que estão, efetivamente, fazendo o Teatro Rotary funcionar. E que não se confunda Cultura com eventos.
2- É você sair do conforto dos gabinetes e das salas de diretoria, das instituições de ensino, filantrópicas, recreativas e afins. Sair e ver o que a cidade tem e o que ela quer, ou precisa, lá fora. O caminho é esse: andar mais na rua e fazer menos reuniões, ver a cidade como um todo, o que está faltando, o que está funcionando, o comportamento das pessoas. A saída é menos burocracias, menos gabinetes, menos reuniões e mais presença na cidade.
3- O fato da Foco ter alguns outros títulos além da publicação mensal é um atestado do crescimento e da evolução da revista. O que eu gostaria de ver na Foco é que temos uma cidade maior do que a revista dá conta de mostrar, atualmente em suas páginas (e isso acontece também em outros veículos de comunicação da cidade). Eu me lembro que nas seis primeiras edições da revista havia certa dificuldade em conseguir anunciantes. Mas logo depois a dificuldade era outra: tinha mais anunciantes interessados na revista do que páginas disponíveis para anúncios. E a Foco, como Passos, começou a andar sozinha. O grande desafio é não se acomodar. É não pensar que já chegou lá!