Fada dos Olhinhos, Fada Lily e Fada do Dente.
Créditos: Nani Joele e Andressa Oliveira
Neste mundo de forte apelo de fastfood, salgadinhos e refrigerantes, incentivar as crianças a comerem alimentos saudáveis é uma tarefa custosa para os pais. Outra dificuldade é saber como e quando deixá-las usarem celulares e tablets sem comprometer a saúde dos olhos. Voltada para a educação alimentar, a nutricionista Lilian Figueiredo Geraldo Custódio criou um projeto a fim de levar as crianças para o mundo da alimentação saudável. O projeto - As Fadas do Bem – é desenvolvido em escolas infantis, onde as fadas alertam sobre os excessos e ensinam como comer e usufruir da tecnologia de modo saudável.
As fadas são personagens de Lilian Figueiredo (nutricionista), Patrícia Oliveira Andrade Faria (ortodontista) e Luciana Almeida Morais (oftalmologista pediátrica) e cada uma tem uma missão dada pelo “Papai do Céu”, que está preocupado com a saúde dos meninos e meninas, por causa de alimentos sem nutrientes e uso descontrolado de aparelhos eletrônicos.
Lilian é a Fada Lily, Patrícia, a Fada do Dente, e Luciana, a Fada Otília, ou a Fada dos Olhinhos. A Fada Lily diz para as crianças que os alimentos fabricados pelo homem quando consumidos em excesso não fazem nada bem para a saúde, ao contrário, causam danos e doenças, como diabetes, hipertensão, colesterol alto e até osteoporose, doença dos ossos mais comum em idosos. A Fada do Dente fala dos perigos do açúcar e outras substâncias presentes em doces e refrigerantes e do uso das chupetas e mamadeiras para os dentes. A Fada Otília alerta sobre os danos que os celulares e tablets, se usados em excesso e de forma inadequada, podem causar na visão.
Luciana Almeida Morais (Oftalmologista Pediátrica), Lilian Figueiredo Geraldo Custódio (Nutricionista) e Patrícia Oliveira Andrade (Ortodontista).
MUNDO DA IMAGINAÇÃO
O mundo lúdico é o recurso a que chegou Lilian quando já não sabia mais o que fazer para convencer os alunos das escolas particulares em que trabalhava como nutricionista a comerem os alimentos nutritivos. Diante da resistência a verduras, legumes e frutas e a preferência pelos alimentos pobres em nutrientes, Lilian entendeu que a melhor maneira de mudar esses maus hábitos seria reeducar as crianças.
“É assim que eles aprendem. Eu tenho que entrar no mundo deles, o mundo encantado do faz de contas”, diz a nutricionista, acrescentando que antes os alunos sequer experimentavam a comida saudável e já a achavam ruim.
Chapeuzinho Vermelho foi seu primeiro personagem, que ela adaptou para a Semana da Alimentação de uma das escolas em que trabalhava. Na cesta, frutas em vez das guloseimas para a Vovozinha.
Era o lúdico começando a ser empregado para incentivar o consumo de bons alimentos. “As crianças têm uma abertura para o aprendizado, ao contrário dos adultos”, disse Lilian, contando que foi a partir dessa experiência que surgiu a ideia de desenvolver uma metodologia para educar os alunos quanto à alimentação.
ESCOLAS PÚBLICAS
O projeto foi formatado para ser desenvolvido em escolas públicas, com alunos a partir de três até seis anos de idade que, segundo Lilian, são as faixas etárias que já compreendem as lições, mas ainda acreditam em fadas. O trabalho é feito duas vezes por ano em cada escola. Na segunda apresentação, as fadas verificam a aplicação das lições e os resultados.
“Existe também o envolvimento dos professores nesse propósito, que é reduzir o número de crianças com problemas de saúde por causa de má nutrição e hábitos”, diz a nutricionista, acrescentando que, além da dentista e da oftalmologista, outras profissionais estão interessadas em participar do projeto.
Para entrar no mundo lúdico das crianças, Lilian exige uma atenção especial a todos os detalhes, como os figurinos e acessórios dignos de fadas, criações da designer de moda Maíra Mas. Já as transformações, contam com a colaboração da cabeleireira Antonieta Godinho e sua irmã Luciana, que respectivamente cuidam do cabelo e maquiagem das três fadas. Lilian até fez aulas de teatro por um período, com o ator Pedrinho Silva, para desenvolver a personagem.
Também voluntárias, as fotógrafas Nani Joele e Andressa Oliveira registram a transformação de Lilian, Patrícia e Luciana em fadas e a atuação delas nas escolas. “É muita gente envolvida. O que as pessoas veem nas apresentações é apenas a cereja do bolo”, ressalta a nutricionista.
As Fadas do Bem já estiveram nos CemeisTutuka, no Bairro Penha II, Astrogilda Correa Barbosa (Bairro Santa Luzia) e Sueli Imaculada de Souza (Jardim Primavera). Para realizar o trabalho, as fadas não retiram as crianças da sala de aula. Segundo Lilian, as apresentações duram de dez a quinze minutos e nesse tempo os alunos praticamente nem piscam. “Ficam hipnotizados, encantados”, diz.
O projeto, no entanto, não encanta apenas as crianças, conforme revelam as próprias fadas. A magia se estende às educadoras que depois ficam com a missão de perseverar o projeto no dia a dia. Lilian atualmente atende crianças individualmente em domicilio, além de cuidar da agenda das Fadas do Bem e dos projetos relacionados, entre eles escreve livros de contos.
“Conseguimos nosso objetivo: encantamos as crianças e transmitimos conhecimentos que vão melhorar sua qualidade de vida”, comenta a Fada do Dente.
“Eu conheci a Lilian e desde que a conheci me encantei com ela, com a pessoa dela, com a atividade dela, com a família dela e com esse projeto que ela vinha fazendo há mais tempo”, diz a Fada Otília.
Segundo a Fada do Dente, o projeto é democrático, com três fadas participando das decisões e ajudando no que podem. “O nome fui eu quem bateu o martelo: Fadas do Bem”, conta.
Mau hábito alimentar
Alimentos pobres ou isentos de nutrientes podem causar várias doenças nas crianças, até mesmo osteoporose, que ocorre mais em idosos.
A criadora do projeto As Fadas do Bem, nutricionista Lilian Figueiredo Geraldo Custódio, conta que estudou sobre os danos dos alimentos com baixo teor de nutrientes na saúde das pessoas, especialmente as crianças. O sobrepeso, colesterol alto, hipertensão, diabetes e até osteoporose são as consequências mais comuns dessa rotina alimentar desequilibrada e a solução é mudar o cardápio para comida nutritiva e in natura ainda na infância.
Formada há 18 anos, Lilian Figueiredo morava em Poços de Caldas antes de vir para Passos, dez anos atrás, acompanhando o marido devido uma transferência de trabalho. Em Poços, Lilian trabalhava em clínica hospitalar quando, certa vez, uma paciente que iria amputar mais um pé por causa do diabetes lamentou os maus hábitos alimentares adquiridos ainda na infância, que teriam lhe comprometido a saúde: “Se eu tivesse te conhecido quando criança, eu ainda teria os meus dois pés”, disse-lhe a mulher.
Em Passos, após o nascimento do segundo filho, Lilian já havia abandonado os planos de trabalhar em consultório, entre outros motivos, por causa da dificuldade dos adultos se adaptarem à dieta saudável. Na escola do filho mais velho, ela foi convidada para ser a nutricionista, onde pode constatar que até as crianças tinham dificuldades de aceitar o novo e nutritivo cardápio.
Foi da experiência nessa escola particular e em outra onde fazia o mesmo trabalho, que a nutricionista foi desenvolvendo o método para incentivar os alunos a experimentarem e a se acostumarem com o sabor dos alimentos naturais. Uma das primeiras ações foi explicar a eles os porquês dos legumes, verduras e frutas, qual a importância deles para o corpo. “As crianças têm uma abertura para o aprendizado, ao contrário dos adultos, além de serem movidas pela curiosidade”, disse.
Numa das escolas, Lilian aproveitou a Semana da Alimentação vestindo-se de Chapeuzinho Vermelho. Na cesta, em vez de doces, frutas. Era o lúdico começando a ser empregado para incentivar o consumo de bons alimentos. “É assim que eles aprendem. Eu tenho que entrar no mundo deles, o mundo encantado, do faz de contas”, explica a nutricionista.
Com essa aceitação nas escolas, Lilian decidiu que a educação nutricional para crianças seria a melhor forma de trabalhar e que levá-las para o mundo lúdico era um recurso didático eficiente. Dada a experiência adquirida com Chapeuzinho Vermelho, Lilian adaptou outras personagens infantis para contar histórias nutritivas dos alimentos: Branca de Neve, Rapunzel, Cinderela, Fada Tinkerbell, boneca Emília e Elsa (Frozen).
Luciana Oftalmologista Pediátrica.
A Fada do Olho
A médica Luciana Almeida Morais é especializada em oftalmologia pediátrica e tornou-se uma Fada do Bem a convite da nutricionista Lilian Figueiredo Geraldo Custódio, durante uma consulta. A Dra. Luciana admite que no início teve receio de aceitar o convite porque estava começando o consultório em Passos, mas que após se estabilizar poderia abraçar o projeto plenamente.
“É muito importante que a saúde visual seja investigada ainda na infância principalmente para correção da ambliopia, que é uma baixa de visão por falta de estímulo visual”, explica.
A Fada do Olho participa das apresentações nas escolas infantis com intuito de chamar a atenção dos pais para a importância de levarem os filhos ao oftalmologista mesmo que eles não se queixem de problemas visuais, já que algumas vezes a criança pode estar enxergando somente com um dos olhos e não saber, pois sempre enxergou dessa forma.
Outro alerta é para o uso dos celulares e tablets, que podem, sim, ser utilizados, desde que sem exageros. “É um ótimo atrativo, um recurso muito bom para pesquisas, então a gente não pode excluir totalmente esse uso”, observa a oftalmologista. Porém, embora os estudos ainda não sejam conclusivos, o excesso no uso desses aparelhos pode ser prejudicial para a visão, pois são utilizados a menos de 40 cm distantes dos olhos e isso pode causar alteração na acomodação (poder do olho de focalizar de perto) e predispor o aparecimento da miopia.
Além disso, há estudos científicos que comprovam que a falta da luz solar também contribui para o surgimento e progressão da miopia, como nas crianças que ficam muito tempo dentro de casa se distraindo com celulares ou tablets.
A Dra. Luciana Morais explica que a luz solar estimula a produção da dopamina ocular, que é uma substância que controla o crescimento do olho. Sem ela, o globo ocular cresce excessivamente e pode se tornar míope. É o que está acontecendo em países orientais, onde mais de 80% das pessoas são míopes pela falta de exposição a ambientes externos e excesso de aparelhos eletrônicos.
“Nas apresentações procuro falar de forma bem lúdica com a criança para que ela entenda o problema e tente diminuir o uso desses aparelhos.”, comenta.
Limitar o tempo de exposição e aumentar a distância dos celulares e tablets dos olhos, assistir jogos, filmes e desenhos animados do Youtube na TV., por exemplo, são boas precauções contra os possíveis danos.
Brincar em ambiente externo, beneficiando-se da claridade natural proporcionada pelo sol, é igualmente indicado pela oftalmologista.
Com esses cuidados, os pais podem evitar que seus filhos tenham um crescimento anormal do globo ocular e desenvolvam miopia.
A Fada do Dente
A dentista especializada em ortodontia Dra. Patrícia Oliveira Andrade Faria é a Fada do Dente no projeto As Fadas do Bem. Ela conta que foi “escolhida” por Enrico e Fred, seus pacientes e filhos de Lilian, a nutricionista autora do projeto. “Aceitei o convite com a condição que faríamos uma Fada do Dente Ortodontista. Essa é a minha profissão e a fada teria que retratar isso”, diz.
Nos Cemeis (escolas infantis municipais), a Fada do Dente fala às crianças sobre a higienização dos dentes, as cáries, troca de dentes de leite por permanentes, a importância da alimentação saudável para os dentes, remoção de hábitos nocivos como chupetas e mamadeiras, sucção de dedo, roer unhas e muitos outros assuntos que vão surgindo na interação com as crianças.
Como Fada do Dente, a Dra. Patrícia cita vários problemas que a alimentação irregular causa nos dentes. “O alto teor de açúcar presente nos alimentos processados, como fastfood e doces, é responsável pelas cáries. Além disso, o alto consumo de bebidas ácidas como o refrigerante está relacionado com a retirada do esmalte dentário que protege a estrutura interna do dente”, observa.
Os alimentos industrializados também prejudicam a mastigação, o que é um fator prejudicial para a boa formação da arcada dentária. “Alimentos crus como frutas e verduras estimulam as crianças a mastigarem, os alimentos processados não. Com isso temos arcadas cada vez menores que não cabem o tamanho dos dentes permanentes, temos atraso na troca de dentes, problemas precoces de disfunção de ATM. Os músculos da mastigação são como qualquer musculatura do corpo que precisa ser estimulada, de preferência em crianças ainda pequenas”, ressalta Dra. Patrícia.
O hábito de sucção de chupeta e mamadeira também é prejudicial para o bom funcionamento da boca e deve ser removido até os três anos de idade. A mordida aberta, que é quando os dentes da frente não tocam durante a mastigação, o aprofundamento de palato (céu da boca) e as mordidas cruzadas são deformações causadas pela chupeta e mamadeira.
A retirada desses hábitos da criança deve ser feita com carinho, diálogo e firmeza, segundo a ortodontista. “O cuidado deve ser para que na remoção do hábito da chupeta a criança não comece a chupar o dedo, que é um hábito com danos maiores e mais difícil de ser removido; ou na remoção da mamadeira a criança comece a recusar o consumo de leite que é um alimento essencial para os dentes. É importante que a criança e a família estejam motivadas a deixar o hábito, não vale esconder a chupeta/mamadeira da criança”, explica a ortodontista.
Enio Modesto
O mundo encantado e a interação das crianças com as fadas.
Observem o encantamento das crianças.
Os olhinhos das crianças ficam “vidrados”, elas nem piscam.