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Balde Cheio: Produtor de leite reduz custos em 60%

  • Um programa da Embrapa/Faemg tem ajudado produtores de leite a aumentar a produtividade e a renda; a tecnologia tem quase 50 anos de pesquisa, mas só chegou em Passos na forma metódica há pouco tempo.
    Os produtores rurais Alessandro Lemos de Faria e Daniele Maia Piassi de Faria.
    Os produtores rurais Alessandro Lemos de Faria e Daniele Maia Piassi de Faria.

     

     
    Os produtores rurais Alessandro Lemos de Faria e Daniele Maia Piassi de Faria amargavam prejuízos com a produção de leite e só não desistiram da atividade porque conseguiam compensar as perdas prestando serviços para outros produtores rurais. A situação só mudou para melhor depois que eles conheceram um programa que combina pastagem intensiva e gestão, proporcionando redução de custos, aumento de qualidade e maior rentabilidade. Desde que Alessandro e Daniele implantaram essas técnicas na fazenda da família, em Passos, os custos de produção caíram até 60% e, enfim, eles começaram a ter lucro com o leite. 
     
    Desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pecuária Sudeste - São Carlos /SP) e difundido em parceria com a Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais), o programa Balde Cheio tem sido a salvação de milhares de produtores há 20 anos, como o casal Daniele e Alessandro.
    A tecnologia, embora seja bem simples, requer o comprometimento do produtor em todas as etapas, para garantir a eficiência da metodologia. Começa com a definição das áreas de pastagem, que será dividida em piquetes. Em cada dia, as vacas comem em um piquete, num sistema rotacionado, garantindo capim nas condições ideais para a adequada nutrição dos animais e, portanto, uma boa produtividade de leite.
     
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    Alessandro Faria, Daniele Piassi e Angela Illanes Zootecnista credenciada pela Embrapa/Faemg na Fazenda São Lourenço.

    O produtor deve também promover o controle zootécnico do rebanho, por exemplo, as parições, as coberturas e a produção de leite, fazer anotações das despesas e receitas e registrar as condições do tempo: chuva e temperatura, que são fundamentais para garantir a qualidade nutritiva dos pastos.

    “O programa faz com que o produtor trabalhe coisas muito básicas dentro da fazenda: água de qualidade, sombra para o gado, manejo do pasto. A inovação do programa é levar a tecnologia sem maior interesse que não seja atender o produtor”, explica a zootecnista Angela Illanes, credenciada pela Embrapa/Faemg para orientar os produtores em vários municípios dentro da metodologia do Balde Cheio.
     
    Embora o programa esteja começando só agora em Passos, através do Sindicato dos Produtores Rurais (SinRural), o método para a aplicação da tecnologia havia sido implantado há cerca de dois anos na Fazenda São Lourenço, de Alessandro e Daniele, com acompanhamento técnico de Angela Illanes. Foi o sucesso dessa parceria que motivou o SinRural a incentivar os demais produtores a seguirem o exemplo (leia na página 50).
     
     

    ALTOS GASTOS
     
    O cultivo de pastagem intensiva, com capins adequados ao clima e ao manejo dos animais, fez Alessandro e Daniele deixarem para trás gastos de R$ 20 mil, R$ 22 mil mensais, com ração. Outros gastos quase que totalmente cortados foram com medicamentos, porque, do plantel de 120 cabeças, havia sempre de 20 a 30 vacas com mastite todo mês e afecções nos cascos, resultado da intensificação da produção desordenada.
    “Hoje os custos foram reduzidos em 60% na propriedade. O pasto é a alma de ser, um volumoso barato e de melhor qualidade que a silagem de milho”, explica Alessandro de Faria.
     
    Embora o programa prevê também aumento de produtividade das vacas, na Fazenda São Lourenço houve uma queda média de 4 litros/dia por cabeça. Os produtores explicam que essa redução se deve à venda de grande parte das vacas, que davam até 30 litros/dia, para pagar as contas e à substituição delas por novilhas de primeira cria, cuja lactação é menor. No entanto, essa queda é compensada pela diminuição das despesas, já que o custo do leite é o resultado da despesa dividido pela produção.
     
    Avaliando o desempenho da Fazenda São Lourenço quanto à aplicação da metodologia do Balde Cheio, a zootecnista ressalta que os resultados positivos dependem quase que totalmente do produtor, como é o caso de Alessandro e Daniele. “O trabalho tem êxito por causa do interesse e trabalho dos donos, que seguiram à risca as recomendações”, disse. “Isso fez com que a propriedade tivesse essa mudança impressionante.”
     
    OUTRAS TENTATIVAS
     
    Aveia Forrageira.
    Aveia Forrageira.

     

     

    Até aderirem ao programa, Alessandro e Daniele tentaram diversas formas de ganhar dinheiro com o leite, todas sem sucesso. Segundo eles, uma ideia que não dava certo era simplesmente aumentar a produção, sem atentar para outros fatores que afetam a atividade. Para eles, a solução era produzir mais leite e isso deveria ser feito com mais ração para as vacas. Essa prática, no entanto, só elevava os gastos e não dava o retorno financeiro desejado.
     
    Além da ração, que custava entre R$ 20 mil e R$ 22 mil mensais, outro sofrimento do casal era ter que plantar e colher milho para silagem, um trabalho que exigia mais dinheiro e nem sempre era suficiente: os produtores chegavam até alugar terras para plantar milho.
     
    Com todos esses problemas e apesar do controle rígido das finanças da fazenda, Daniele via todo mês as contas fecharem no “vermelho”. “Todo mês faltava dinheiro para pagar as contas”, recorda, dizendo que Alessandro depositava suas esperanças nas vacas que estavam prestes a parir, acreditando que isso ajudaria a aumentar o volume de leite. 
     
    As técnicas da Embrapa e as orientações da zootecnista permitem à Fazenda São Lourenço fornecer pasto bom para o gado o ano todo. Os piquetes são formados com capim-mombaça, grama estrela e aveia forrageira, que é uma boa opção para o período de inverno, quando as chuvas são escassas e, por isso, dificultam a germinação do capim.
     
    “PRATO” PRINCIPAL
    Capim
    Capim-Mombaça.

     

     

    Com os pastos mais nutritivos e verdinhos o ano todo, a Fazenda São Lourenço não precisa mais de tanto milho para silagem, planta-se uma reserva para o período seco, 25% do volume de silagem produzido antes, e uma parte  suficiente para “grão úmido”, que é uma fonte energética que o gado precisa, uma vez que o capim é sua fonte de proteína e voltou a ser o “prato” principal do cardápio bovino.
     
    Segundo Daniele, as vacas “adoram” os piquetes e, após a ordenha, saem ansiosas para chegar o mais rápido possível ao pasto. “Antes eu olhava para a vaca e queria arrancar 50 litros de leite dela, agora olho querendo cuidar dela com satisfação. Esse sistema de produção resgata a dignidade do produtor, porque é um povo que ama a terra, que trabalha, que dá o suor ali”, comenta. 
     
    A adubação também é bem natural, com palha de café, esterco e chorume. Dos antigos gastos, sobraram poucas despesas, como os suplementos minerais que o gado precisa: sódio, potássio, cálcio e enxofre. A saúde dos animais e os índices reprodutivos são controlados com dados em planilhas. O controle de endo e ectoparasitas são  feitos com uso de fitoterápicos. É realizado também anualmente o controle biológico nas pastagens com a aplicação de fungos para controle de pragas. 
     
    “A gente passou a ter uma produção mais tranquila, com custos mais baixos, melhor aproveitamento das áreas, com os animais concentrados mais perto do curral. (A pastagem intensiva) causa menos degradação, parou a erosão e voltou a fertilidade do solo”, diz Alessandro, enumerando as vantagens da tecnologia da Embrapa/São Carlos e do programa Balde Cheio.
     

    SinRural 
    incentiva produtores de leite
     
    Um grupo de técnicos será capacitado no âmbito do programa Balde Cheio para orientar os produtores de leite interessados em implantar o sistema de pastagem intensiva e rotacionada.
     
     
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    Nenem da Manoela, Darlan (Presidente do SinRural) e Donizete Vilela.

    O Sindicato dos Produtores Rurais de Passos (SinRural) é uma das entidades parceiras da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) na difusão do programa Balde Cheio. O assunto foi introduzido em Passos por meio de duas palestras promovidas pelo SinRural em junho, atraindo dezenas de produtores rurais. Em setembro, técnicos capacitados pelo programa vão iniciar um trabalho junto aos interessados.

    “Nós acreditamos nesse programa porque ele atende ao produtor na sua base, dando-lhe condições de, com o gado alimentado em piquetes rotacionados, aumentar sua produtividade, lucro e prazer de produzir leite”, disse o presidente do SinRural, Darlan Esper Kallas.
     
    O corretor de imóveis Donizete Vilela tem uma propriedade rural em São João Batista do Glória, onde cria vacas leiteiras e se prepara para fabricar queijos. Ele foi conhecer a experiência da Fazenda São Lourenço e se animou com os resultados. “Eu queria ver se compensa, se o investimento é alto, porque tenho interesse em aumentar minha produção e diminuir os custos”, disse.
     
    Segundo a zootecnista Angela Illanes, o programa Balde Cheio atende todos que se interessarem, dos menores aos grandes produtores, sendo o investimento proporcional à capacidade de cada um. “A única desculpa que o produtor não pode dar é de falta de dinheiro”, afirmou.
     
    O programa Balde Cheio começou em 1997 e desde então já chegou em 315 municípios de Minas Gerais, com mais de dois mil produtores participantes. A metodologia utiliza técnicas de pastagem intensiva para a pecuária leiteira pesquisadas na Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo) há quase 50 anos. 
     
    A primeira experiência prática com esses ensinos ocorreu no ano de 1969, quando os professores Moacyr Corsi e Vidal Pedroso de Faria se auto-desafiaram. “Ou aplicamos com sucesso na fazenda da Esalq os conceitos ensinados em aula sobre produção intensiva de leite em pastagens ou devemos pedir demissão dos cargos de professores”. A tecnologia sempre foi empregada por extensionistas da Embrapa, mas só passou a chegar de forma prática aos produtores rurais a partir do ano de 1997, com a criação do programa Balde Cheio.
     
    Enio Modesto
     

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