Domingo, o dia da semana tradicionalmente dedicado ao descanso, é também
um estado de espírito, lugar de conforto ou dor, acolhida ou solidão.
Neste livro, Ana Lis Soares condensa nas narrativas das sete “personagens-ilhas” a grandeza subjacente aos rituais simples e rotineiros dos domingos.
São sete trajetórias que se tangenciam para formar um romance autêntico e precioso, em que, ao longo das horas de um domingo, tais personagens tecem reflexões, lidam com perdas, elaboram dificuldades e alegrias e percebem, no sofrimento ou no êxtase, a epifania de estar vivo.
Das bem traçadas linhas de Soares nascem Beatriz, que atravessa o dia imersa em lembranças e desejos, sobretudo o de se reconectar com a filha,
Amanda; Bárbara, artista plástica fascinante, viva no corpo e no pensamento de seu companheiro José; Sofia, que, prestes a dar à luz, se dedica a se reconciliar com a memória do pai ausente; a adolescente Isabella, que lida com o divórcio dos pais sem perder a ternura na relação com a avó, sua
maior joia; Omolara, que na força da ancestralidade buscou a ponderação para criar os sobrinhos e se acalenta a cada conquista dos dois; Antônia,
mãe de oito, avó de seis, um coração pleno de amor e marcado pela crueza do assassinato de um filho; Carolina, jovem enfermeira, que se fortalece para
dar fim a um relacionamento abusivo.
Neste entrelaçamento de caminhos, o movimento cíclico da vida, a passagem do tempo, a superação, o amor. Em um dia pacato, como o domingo,
uma existência inteira.
Do prefácio de MARIA VALÉRIA REZENDE
“Sim, este romance tece-se como uma manta de barafunda [...]. Cada capítulo tem o nome e a história de uma mulher, mas, na verdade, do conjunto poderíamos dizer que conta a vida de todas as mulheres, os desafios comuns a todas elas, atravessando barreiras de raça, classe, meio
de subsistência, religião, arranjos familiares, campo e cidade, revelando um possível caminho de futuro para toda dor silenciada, toda luta feminista e, ainda, os fundamentos de um conceito de uso recente e necessário, o de interseccionalidade.
Sem jamais ser panfletária nem impingir conselhos a quem a lê, Ana Lis traça, sutilmente, a indicação de um caminho que talvez só percebamos por completo ao ler a última linha da derradeira história que compõe este
texto-tecido, no qual cada capítulo pode ser lido como novela autônoma, mas que, como romance, vai aos poucos revelando sua entranhada unidade.
Ana Lis revela, assim, grande respeito e confiança na inteligência e na sensibilidade de quem a lê, mais uma qualidade a louvar.”
por que ler este livro?
Os temas abordados vão dos mais universais (amor e luto)
aos mais atuais (masculinidade tóxica, abandono paterno
e violência urbana).
As personagens compõem um rico panorama, com diferenças de raça, classe e faixa etária, apontando nuances das vivências atravessadas por essas identidades.
A narração em 3a pessoa permite uma observação profunda das personagens e
das transformações pelas quais passam; ainda que a ação aconteça num único dia,
domingo, o leitor consegue compreender o que as personagens passaram para chegar até ali.
As narrativas independentes permitem que os capítulos sejam lidos fora de ordem, permitindo aos leitores o prazer da descoberta das relações entre as personagens.